O Brasil, hoje é um país laico. Isso é muito bom. Embora poucos
entendam realmente o que isso significa. A separação entre igreja e
estado é um princípio importante tanto para a cidadania quanto para
a vida religiosa. É bom que muitos saibam que quem mais lutou para
que isso acontecesse, primeiro na Europa, foram os protestantes,
particularmente um grupo de anabatistas, embrião desta bandeira e
que, por isso, foram perseguidos por católicos e protestantes de
outras vertentes na época.
Pode parecer estranho para alguns que um grupo religioso tenha lutado
para separar a igreja do estado. Mas isso é justamente porque não
se entende o que significa essa separação. Vou tentar explicar de
forma bem resumida. Milênios de história em alguns parágrafos.
Quando os seguidores de Jesus iniciaram o cristianismo, não passavam
de um grupo de seguidores (aos olhos do governo) que, algumas vezes,
precisava ser repreendido. O tempo passou, o “grupinho” cresceu e
tornou-se uma ameaça ao império romano. Tentaram exterminá-lo. No
séc. IV, o imperador Constantino declarou o cristianismo a “religião
oficial” do império, para praticar aquele velho adágio “se não
pode vencê-los, junte-se a eles”. Então começaram os problemas
para o cristianismo. Ao declarar uma religião oficial, ogoverno está
dizendo que as outras religiões e seus seguidores perdem os direitos
de cidadão. A partir dali, para ser um cidadão romano pleno, além
de obediência ao imperador e suas leis cívicas, também havia a
necessidade de se declarar um cristão. E, contrário ao principal
ensinamento do cristianismo, pelo qual se torna um seguidor pela fé
e consciente e racional decisão pessoal, a partir de agora os
seguidores se tornavam pelo interesse em manter seus direitos civis,
independente de sua fé pessoal. Foi isso que contaminou a igreja por
séculos, até a Reforma Protestante.
Agora as pessoas eram cristãs não porque criam (do fundo do
coração) em Jesus, o Cristo. Mas porque não se declarar cristão
significa ser um cidadão de segunda categoria. Em alguns estados, em
alguns lugares, o seguidor de uma religião não estatal, não
oficial, é considerado um traidor (podendo receber pena de morte, em
alguns lugares), ou não é considerado um cidadão, portador dos
direitos civis.
Isso era ruim para o cristianismo porque agora seus seguidores não
mais seguiam o cristianismo movidos pela essência que caracteriza o
cristianismo (a fé voluntária e por decisão puramente pessoal),
mas sim movidos pelo interesse a uma posição de cidadão.
E assim andou o império romano em toda idade média, no milênio que
compreende entre o séc. IV e o XVI. Neste meio tempo surgiu o
islamismo (séc. VII) e, em virtude disso, ocorreram as cruzadas
(sécs. XI e XII), uma mancha no cristianismo, que explica muito do
ódio dos muçulmanos contra os cristãos até hoje em dia. Os papas
também surgiram nesta época (séc. VI). Neste período também
inclui-se a inquisição, as indulgências e toda a decadência moral
da igreja, apenas a católica, que se tornou oficial desde que
Constantino assim declarou o cristianismo.
Pré-reformadores e vários nomes de verdadeiros cristãos tentaram,
durante este período mostrar o erro da igreja, causado
principalmente pela sua união com o governo deste mundo. Francisco
de Assim, John Wycliff, John Huss e outros foram luz em meio às
trevas neste período, em alguns casos pagando com suas vidas por
isso.
Neste tempo, o império romano sofreu seu declínio (entre a queda do
império romano do ocidente em 476 e o império romano do oriente em
1453). Ao mesmo tempo que o império romano diminuia sua influência
no mundo, os muçulmanos cresciam, a igreja católica crescia em
influência no mundo, inclusive com influência política, uma vez
que era a religião oficial de todo o império romano, espalhado pelo
mundo civilizado de então. Os cargos da igreja católica, como
bispos e arcebispos, bem como o próprio papa já não eram cargos
apenas eclesiásticos. Ter um cargo destes dava ao seu detentor
poderes políticos de influência na região onde estava, e muito
queriam ter esse cargo para poder aproveitar os benefícios que esse
poder e influência temporal lhe permitiam ter. Cargos de bispos
deixaram de ser algo escolhido pela igreja como resultado de alguém
que fosse vocacionado segundo os padrões bíblicos e passaram a ser
negociados como moeda de influência política e poder. Os cargos
eram comprados e vendidos pelos interessados e por quem tivesse
dinheiro para isso. Definitivamente, a fé e a vocação para o
serviço a Deus deixaram de ser critérios para ocupar estes cargos.
Agora os líderes religiosos tinham influência política. Muitas
vezes mais do que as próprias autoridades seculares. E a igreja
católica não deixou de usar essa influência. Enquanto o império
romano diminuía, a igreja católica crescia em influência no mundo
temporal. Na Europa, os bispos mandavam mais do que os reis em muitos
lugares. E, claro, impedia também a renovação da igreja, pois o
poder temporal fazia com que também desejassem manter o poder
religioso e sua influência sobre as pessoas.
Com tudo isso, ao ocorrer a reforma protestante, a insatisfação de
alguns príncipes e líderes políticos com o domínio católico
fizeram com que eles desejassem romper com a igreja católica,
estabelecendo parcerias com a nova igreja reformada, que recebia
proteção militar e econômica destes líderes políticos, em troca
do apoio, perante o povo de suas lideranças. Este é um dos motivos
porque os reformadores não trataram da questão do batismo infantil.
Mas, para a igreja, a parceria só mudou de endereço. No lugar da
igreja católica com o império romano, já em decadência, eram os
protestantes com alguns novos líderes. Mas ainda a igreja permanecia
ligada ao estado. O poder espiritual atrelado ao poder temporal. A
liderança espiritual em codependência com a liderança política e
secular.
continua...
Lucas Durigon
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