segunda-feira, 18 de junho de 2018

País Laico


O Brasil, hoje é um país laico. Isso é muito bom. Embora poucos entendam realmente o que isso significa. A separação entre igreja e estado é um princípio importante tanto para a cidadania quanto para a vida religiosa. É bom que muitos saibam que quem mais lutou para que isso acontecesse, primeiro na Europa, foram os protestantes, particularmente um grupo de anabatistas, embrião desta bandeira e que, por isso, foram perseguidos por católicos e protestantes de outras vertentes na época.




Pode parecer estranho para alguns que um grupo religioso tenha lutado para separar a igreja do estado. Mas isso é justamente porque não se entende o que significa essa separação. Vou tentar explicar de forma bem resumida. Milênios de história em alguns parágrafos.
Quando os seguidores de Jesus iniciaram o cristianismo, não passavam de um grupo de seguidores (aos olhos do governo) que, algumas vezes, precisava ser repreendido. O tempo passou, o “grupinho” cresceu e tornou-se uma ameaça ao império romano. Tentaram exterminá-lo. No séc. IV, o imperador Constantino declarou o cristianismo a “religião oficial” do império, para praticar aquele velho adágio “se não pode vencê-los, junte-se a eles”. Então começaram os problemas para o cristianismo. Ao declarar uma religião oficial, ogoverno está dizendo que as outras religiões e seus seguidores perdem os direitos de cidadão. A partir dali, para ser um cidadão romano pleno, além de obediência ao imperador e suas leis cívicas, também havia a necessidade de se declarar um cristão. E, contrário ao principal ensinamento do cristianismo, pelo qual se torna um seguidor pela fé e consciente e racional decisão pessoal, a partir de agora os seguidores se tornavam pelo interesse em manter seus direitos civis, independente de sua fé pessoal. Foi isso que contaminou a igreja por séculos, até a Reforma Protestante.
Agora as pessoas eram cristãs não porque criam (do fundo do coração) em Jesus, o Cristo. Mas porque não se declarar cristão significa ser um cidadão de segunda categoria. Em alguns estados, em alguns lugares, o seguidor de uma religião não estatal, não oficial, é considerado um traidor (podendo receber pena de morte, em alguns lugares), ou não é considerado um cidadão, portador dos direitos civis.
Isso era ruim para o cristianismo porque agora seus seguidores não mais seguiam o cristianismo movidos pela essência que caracteriza o cristianismo (a fé voluntária e por decisão puramente pessoal), mas sim movidos pelo interesse a uma posição de cidadão.
E assim andou o império romano em toda idade média, no milênio que compreende entre o séc. IV e o XVI. Neste meio tempo surgiu o islamismo (séc. VII) e, em virtude disso, ocorreram as cruzadas (sécs. XI e XII), uma mancha no cristianismo, que explica muito do ódio dos muçulmanos contra os cristãos até hoje em dia. Os papas também surgiram nesta época (séc. VI). Neste período também inclui-se a inquisição, as indulgências e toda a decadência moral da igreja, apenas a católica, que se tornou oficial desde que Constantino assim declarou o cristianismo.
Pré-reformadores e vários nomes de verdadeiros cristãos tentaram, durante este período mostrar o erro da igreja, causado principalmente pela sua união com o governo deste mundo. Francisco de Assim, John Wycliff, John Huss e outros foram luz em meio às trevas neste período, em alguns casos pagando com suas vidas por isso.
Neste tempo, o império romano sofreu seu declínio (entre a queda do império romano do ocidente em 476 e o império romano do oriente em 1453). Ao mesmo tempo que o império romano diminuia sua influência no mundo, os muçulmanos cresciam, a igreja católica crescia em influência no mundo, inclusive com influência política, uma vez que era a religião oficial de todo o império romano, espalhado pelo mundo civilizado de então. Os cargos da igreja católica, como bispos e arcebispos, bem como o próprio papa já não eram cargos apenas eclesiásticos. Ter um cargo destes dava ao seu detentor poderes políticos de influência na região onde estava, e muito queriam ter esse cargo para poder aproveitar os benefícios que esse poder e influência temporal lhe permitiam ter. Cargos de bispos deixaram de ser algo escolhido pela igreja como resultado de alguém que fosse vocacionado segundo os padrões bíblicos e passaram a ser negociados como moeda de influência política e poder. Os cargos eram comprados e vendidos pelos interessados e por quem tivesse dinheiro para isso. Definitivamente, a fé e a vocação para o serviço a Deus deixaram de ser critérios para ocupar estes cargos.
Agora os líderes religiosos tinham influência política. Muitas vezes mais do que as próprias autoridades seculares. E a igreja católica não deixou de usar essa influência. Enquanto o império romano diminuía, a igreja católica crescia em influência no mundo temporal. Na Europa, os bispos mandavam mais do que os reis em muitos lugares. E, claro, impedia também a renovação da igreja, pois o poder temporal fazia com que também desejassem manter o poder religioso e sua influência sobre as pessoas.
Com tudo isso, ao ocorrer a reforma protestante, a insatisfação de alguns príncipes e líderes políticos com o domínio católico fizeram com que eles desejassem romper com a igreja católica, estabelecendo parcerias com a nova igreja reformada, que recebia proteção militar e econômica destes líderes políticos, em troca do apoio, perante o povo de suas lideranças. Este é um dos motivos porque os reformadores não trataram da questão do batismo infantil. Mas, para a igreja, a parceria só mudou de endereço. No lugar da igreja católica com o império romano, já em decadência, eram os protestantes com alguns novos líderes. Mas ainda a igreja permanecia ligada ao estado. O poder espiritual atrelado ao poder temporal. A liderança espiritual em codependência com a liderança política e secular.


continua...


Lucas Durigon


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