Veja bem, porque sou contra anular o voto. Não é uma questão de
que o voto nulo ou branco "vai" pra esse ou para aquele
candidato, como se o candidato com mais votos ainda recebesse a soma
dos votos nulos ou brancos. Esse tipo de coisa, como muitos imaginam,
não existe na lei eleitoral.
A questão de transferência de votos ou favorecimento causado pelos
votos brancos e nulos é matemática pura.
O fato é o seguinte: para contar o percentual de votos, contam-se
apenas os votos VÁLIDOS. Ou seja, os nulos e brancos não entram, na
contagem. Na prática, é como se o pessoal que vota nulo ou branco
nem tivesse comparecido às urnas. Da mesma forma são as abstenções,
ou seja, aquelas pessoas que nem comparecem para a votação, apenas
justificam sua ausência. Na contagem em si, para efeito de calcular
o vencedor, o NULO, o BRANCO e as ABSTENÇÕES têm o mesmo efeito:
nada.
Em países onde a eleição não é obrigatória, mas opcional,
comparecem às urnas apenas quem têm interesse em votar. Quem deseja
participar da escolha dos governantes. No caso do Brasil, embora o
voto seja obrigatório, nos casos dos nulos, brancos e abstenções,
é como se essa pessoa nem tivesse comparecido, como em países onde
não é obrigatória.
O voto nem é contado.
Isso não é voto de protesto.
É desprezado, ignorado pela lei eleitoral brasileira.
Nenhum candidato ou partido vai ficar preocupado com aquele que vota
nulo ou em branco. Consideram essas pessoas como desinteressadas pela
política brasileira. Se alguém está interessado na política e
vota nulo, achando que está mandando um “recado” para os
governantes, está perdendo tempo. Esse tipo de voto é desprezado.
Daí, quem acaba decidindo a eleição, são aqueles que votam em
alguém, consciente ou não. O perigo são os que votam em alguém,
mas não de forma consciente. Ou seja, aqueles que são manipulados,
por favores ou influências perniciosas.
Neste caso, a questão é mais matemática do que ideológica ou
partidária. Veja só: De cada 100 votos, por exemplo, se tivermos 30
votos nulos (30%), significa que serão contados apenas os 70 votos
válidos, que representam 70% do total de votos. Mas que agora,
passam a ser considerados como 100% para a questão da soma dos votos
que participarão do cálculo que decidirá a eleição. Ou seja, o
cálculo é feito em cima dos 70 votos válidos. Os nulos/brancos
sequer são considerados.
No Brasil, para os cargos do poder EXECUTIVO (presidente,
governadores e prefeitos) são decididos quando o vencedor tem 50% +
1 dos votos válidos. Por isso é que, quando no primeiro turno o
candidato que fica em primeiro lugar não alcança essa porcentagem
(50% + 1), ocorre o segundo turno. Com apenas 2 candidatos, haverá,
matematicamente, um vencedor com 50% + 1.
No caso do exemplo dos 100 votos acima, com 30 nulos/brancos e apenas
70 votos válidos, um candidato que ganhasse no primeiro turno
precisaria de apenas 36 votos para se eleger (50% + 1, ou metade dos
votos válidos, que são 35, mais 1). Portanto, quem votou nulo, na
prática, se absteve de participar da decisão e permitiu que menos
pessoas no Brasil (36, neste exemplo) decidisse a eleição.
Portanto, os candidatos fazem as contas considerando os votos nulos e
brancos, porque só precisam se preocupar com os outros, porque terão
de influenciar menos pessoas para garantir a eleição.
E assim, quanto mais votos nulos, mais fácil “comprar” uma
eleição, porque menos pessoas terão de ser influenciadas a fim de
garantir a vitória ao candidato. Se, no exemplo acima, não
houvessem votos nulos/brancos, então o candidato vencedor teria de
conseguir 51 votos (15 a mais, neste caso), porque todos os votos
fariam parte da contagem e, neste caso, seriam 50 votos, mais 1.
Não é preciso dizer que, neste caso, tem mais pessoas participando
da decisão, mais pessoas para influenciar. Essa é uma questão de
simples matemática. Ao votar nulo, não estamos dizendo para os
políticos que estamos insatisfeitos. Estamos dizendo que somos
passivos, que não nos importamos.
Num exemplo mais crítico, se 60% dos votos fossem nulos, e
tivéssemos portanto apenas 40 votos válidos, usando os números
acima, o vencedor precisaria influenciar apenas 21 pessoas para
vencer (dos 40 votos válidos, metade, que são 20, mais 1). Quanto
mais nulos, mais fácil ganhar a eleição por parte daqueles que
gostam de usar métodos de manipulação. E, neste caso, quem tem a
“máquina administrativa” (aquele que está no governo), tem mais
facilidade ainda de perpetuar seu domínio. Porque, quanto mais nulo,
menos pessoas teriam de ser influenciadas.
Em outras palavras. Se um governo quiser decidir distribuir favores à
população, a fim de garantir que ganhará os votos de pessoas mais
simples, mais necessitadas, menos estudadas, para conseguir o voto
destas pessoas e, ao mesmo tempo, convencer as pessoas mais cultas
que o voto nulo ou branco é uma forma de protesto, uma maneira de
dizer sobre sua insatisfação, ele está na verdade dizendo “não
ajudem a decidir a eleição, mandem um 'recado' às urnas, votem
nulo, enquanto eu ajudo algumas pessoas a se decidirem votar naqueles
que lhes prestam favores”.
Matematicamente falando. Para garantir os 36 votos do primeiro
exemplo, terá de convencer 30% dos eleitores a não votarem. No
exemplo mais crítico, precisará estimular 60% a não votar. Em
compensação precisará garantir apenas 21 votos. Fica mais barato,
mais fácil ganhar por manipulação, quanto maior for o número de
pessoas que abrem mão de seu direito de voto. E sempre há um grupo pequeno de pessoas dispostas a trocar seu voto por favores, seja uma
dentadura, uma promessa de emprego para o sobrinho, um benefício
social ou coisas do tipo.
Mas a verdade é que quanto menos pessoas participarem realmente das
eleições, votando em alguém, então mais fácil será manipular,
pois o candidato terá de se preocupar com um número menor de
pessoas para votar em si.
Por isso eu não voto nulo.
E você, vota nulo?
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