segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Não precisamos mais de alfaiates


«… Teríamos, assim, não mais do que duas alternativas: repetir a tradição recebida ou arranjar um modo de mediá-la à mente moderna. Se o teólogo apenas repetir a tradição, sua teologia se torna supérflua, uma vez que a tradição está aí e todos têm acesso a ela, entendendo-a ou não. Senão quiser ser supérfluo, torna-se, então, um teólogo de mediação da tradição. Este é o segundo sentido, e é positivo. Poderíamos dizer que a teologia por definição, é sempre de mediação …» Paul Tillich
Tillich expressa o pensamento que no termo "teologia" está subtendida a ideia de mediação da tradição. Com isto, temos de buscar na história (captar da história) da teologia aquilo que é relevante e importante para o "momento nosso". E, de acordo com Tillich, teologia (propriamente dita), é tornar atual (contextualizado) o que nos ensinou a história (positiva ou negativamente). Ou, usando as palavras de Tillich, no fechamento da idéia: " … Eu mesmo deixaria imediatamente de ser teólogo se tivesse que abandonar a tarefa da mediação. Pois a alternativa a esse tipo de teologia é a repetição e a teologia não é repetição." (!)
Isto me leva a pensar em três questões: a. A relevância da teologia para o momento atual; b. a busca dessa relevância; c. quantos querem esta relevância
Relevância da teologia para a atualidade
Vivemos o imediatismo, onde tudo precisa ser feito/resolvido "ontem" (!). Não há tempo para reflexões, para análises, que geram a ligação da tradição (e falo tradição enquanto história) com o tempo atual. A "tecnologização" do mundo nos trouxe esse imediatismo.
Diria que estamos numa terceira fase do capitalismo. Apesar do seu embrião ser encontrado no feudalismo (os burgos), ele só veio a se firmar com a revolução industrial, a qual possibilitou maior produção de excedentes e geração de lucros. Intensificou a relação proprietário versus proletariado.
A segunda foi a revolução financeira, onde não mais os detentores dos meios de produção, mas os detentores do dinheiro controlam os outros. Nesta fase, os bancos, os investidores dominam.
Ainda vivemos esta fase. Mas entramos na revolução da tecnologia/informação. Hoje, ainda que no seu embrião, quem detém a tecnologia tem o domínio e controle do restante. O imediatismo, essa corrida pelo "capital" (seja ela máquinas, mão-de-obra, tecnologia ou dinheiro) torna as pessoas cada vez mais auto-suficientes. Não há lugar para teologia, pois "meu" teólogo particular é a internet! "Eu" encontro respostas lá (sejam certas ou não, mas são respostas). A reflexão precisa ser rápida, mas como fazê-la rapidamente se ela exige tempo de reflexão, tempo este que a corrida pela sobrevivência não nos dá?
A busca da relevância
A reflexão teológica neste contexto já não é mais interessante às massas. Houve um tempo que o foi. Em Lutero, foi a reflexão teológica que cativou as massas. Nenhum reformador teria sucesso no mundo atual exatamente pela falta de tempo! Em termos práticos, se há um problema social, precisa ser resolvido e não analisado. As pessoas querem respostas!! Se socialmente aplicássemos o método de maiêutica, tiraríamos a paciência das pessoas antes de tirar o conhecimento de dentro delas!! Sócrates também fracassaria hoje.
É preciso agilidade (não porque seja o melhor, mas é resposta ao imediatismo do momento presente). O marceneiro e a costureira já não têm seu espaço hoje. As roupas prontas e lojas de móveis em série estão na crista da onda. Veste-se a roupa de gosto comum, feita a média da população. Massifica-se pelo uso generalizado dos jeans e camisetas. A individualidade vai cedendo espaço para a produção/rentabilidade.
A mesma tendência atinge o pensamento. Para me fazer claro, diria (radicalizando): "Já não adiante mais ensinar a pensar, não há tempo. A tendência é dar "respostas prontas".
Quantos estão dispostos?
Deixe-me esclarecer para não ficar no absurdo! A questão é que a ordem mudou. Não refletimos (analisamos) mais sobre as origens, mas sobre as conseqüências. E o que está acontecendo na prática: precisamos (os teólogos) aprender a lidar com isso. Não sugiro que venhamos a praticar isso, apenas que encaremos a realidade e aprendamos a lidar com isso!
Chega um movimento. Exércitos se levantam defendendo e criticando. Dão respostas sobre algo que não produziu ainda frutos, apesar da grande maioria trabalhar nas suas avaliações com os resultados. Poucos são os que dão respostas baseadas em reflexões teológicas. Não dá tempo! O movimento está aí e cobra posicionamento!!!! E necessário mais reflexão. Mas não está sendo possível. Como agir?
Não vou dar respostas, vou deixar para você refletir.



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segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Prisão em 2a. Instância


Não sou profissional do meio jurídico. Nem juiz, nem advogado, promotor ou escrivão. Só tenho muitos amigos e parentes advogados. É o mais próximo que chego do meio jurídico. Nunca estive num tribunal, nem como testemunha, réu ou requerente. Mas me arrisco a falar deste assunto, não considerando a falta que a formação técnica jurídica me faz, e sim levando em conta minha formação e experiência com relação ao trato com o ser humano e a sociedade como um todo. Afinal, isto tudo diz respeito à nossa vida em sociedade.
Tecnicamente falando, talvez exista espaço na lei para interpretar esta questão ora de um jeito, ora de outro, conforme as circunstâncias e os interesses. Não deveria ser assim. A lei deveria ser um pouco mais clara e dar menos espaço para manobras. A metafórica figura da justiça cega deveria significar que ela não é parcial, não olha os envolvidos para dar a sentença, mas é cega para as circunstâncias e deveria olhar tão somente para os princípios que regem a lei.
A lei deveria ser formulada por princípios.
Mas, muitas vezes, a lei é formulada baseada em interesses.
E quase nunca dos interesses da maioria, o que seria o principal princípio ético a ser observado. E quase nunca pelos interesses dos mais necessitados, dos mais vulneráveis socialmente, que também seria um princípio bastante aceito.
Muitas vezes, a lei é formulada buscando satisfazer interesses de alguns poucos mais poderosos. Isso não é novo, existe na humanidade há muito tempo.
Nesta recente decisão do STF, podemos ver que o que foi agora decidido ser “constitucionalmente” correto não permitir prisão em 2a. Instância, já foi considerado, por alguns dos mesmos ministros que agora votaram neste quesito, como algo inconstitucional. O que os fez mudar de opinião? Seria uma amadurecimento da interpretação das leis? Ou uma nova lei que viesse a redirecionar a interpretação? Acho que não, em ambos os casos. O que muda, para estes ministros, é o momento, a circunstância. Se hoje a lei é interpretada de um jeito diferente do que já foi e ainda poderá ser interpretada de outra forma no futuro, é porque a definição da lei é bastante frouxa para permitir interpretações variadas em momentos diferentes. E o momento, a circunstância que os leva a interpretar deste ou daquele modo uma mesma lei, em momentos diferentes, é o fato de como esta ou aquela interpretação irá beneficiar este ou aquele grupo ou indivíduo.
Se os interesses dos possíveis atingidos por uma nova interpretação da lei forem fortes o suficiente para influenciar os ministros que tomam a decisão, estes mesmos ministros são capazes de esquecer suas antigas interpretações e opiniões, esquecer princípios e ética e fazer uma nova interpretação de um mesmo texto, a fim de beneficiar (ou prejudicar) este ou aquele, conforme os interesses e os pagamentos feitos.
Já foi dito o suficiente e não precisaríamos repetir aqui que esta decisão aumenta a impunidade no nosso país. Quero lembrar que talvez esteja faltando interpretar uma outra questão presente na lei, quando diz que o acusado só será condenado após fazer uso de “ampla” defesa, para se defender da sua acusação. Entendo que esta ampla defesa é necessária, se considerarmos que existe sim casos de perseguição, onde o acusado é condenado também por interesses dos mesmos tipos, ou seja, existe sim casos onde o réu poderia estar sendo vítima de perseguição, e não seria justo ou razoável deixar que apenas 1 decisão (do juiz de 1a. Instância) definisse o destino da vida de alguém, até porque, sendo feito por seres humanos, este juiz também poderia falhar. Uma 2ª instância viria a confirmar (ou não) aquela primeira decisão. E, considerando que na estrutura do judiciário brasileiro, esta 2ª decisão é tomada por um colegiado, ou seja, um grupo de juízes e não apenas 1 único juiz, isto dá mais credibilidade ainda a esta confirmação da condenação.
A presunção de inocência precisa ser mantida e usada para não prender (ou melhor, condenar) alguém apenas num primeiro julgamento. E, quando o réu recorre à 2ª instância, para ter uma oportunidade de um segundo julgamento, poderia ocorrer deste novo julgamento cancelar o resultado do primeiro. O réu deve ter esse direito e acredito ser legítimo, como princípio de justiça, ética, contra perseguição. E uma possível 3ª instância poderia existir no caso das 2 primeiras terem decretado resultados diferentes, como se fosse um “melhor de 3”.
Mas, na mesma ideia de um “melhor de 3”, será que é mesmo necessário recorrer a esta 3ª instância quando as duas primeiras tiveram decisões iguais? Quando houve condenação em ambas as primeiras instâncias, será que realmente o réu ainda pode ser considerado inocente? Mais do que isso: será que realmente é preciso manter toda uma estrutura jurídica, que custa milhões aos cofres públicos, para que a 3ª instância venha a julgar aquilo que já foi decidido em conformidade por duas outras instâncias anteriores. Se fosse num jogo esportivo melhor de 3, quando se ganha as 2 primeiras partidas, nem preciso é jogar a terceira partida!
E ainda mais: será que estes juízes de uma 3ª instância são mais competentes, menos falhos, mais “divinos” e certeiros que os outros das instâncias 1 e 2? Com esta decisão, não estão estes juízes se julgando superiores, sendo arrogantes, invalidando as decisões tomadas pelos seus companheiros de instância anteriores?
Se o resultado de 2 julgamentos concordarem entre si, havendo provas e procedimentos corretos, ficar protelando uma decisão destas, permitindo que o condenado fique adiando e adiando o resultado final é injusto com a sociedade como um todo. É algo abominável para a sociedade. E para Deus também.




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segunda-feira, 4 de novembro de 2019

O Aborto - escolha da mulher?



Mas então isso nos leva a um outro argumento de quem defende o aborto. O de que o corpo é da mulher e ela tem o direito de fazer suas escolhas, inclusive sobre o aborto. Neste ponto aqui, também vale repensar algumas coisas. Este argumento não é de todo válido, ainda que possamos entender que fica nas costas da mulher a maior responsabilidade de uma criança, em caso de gravidez.
Mas é necessário que a mulher entenda que foi dado a ela por Deus (ou quem preferir dizer que não acredita em Deus, pense que a natureza fez assim, de qualquer forma é como a mulher é) e capacidade de gerar filhos. Assim são as fêmeas dos mamíferos. Assim é na espécie humana. O homem fornece a semente. A mulher cuida de gerar. Por questões de superioridade da espécie humana, diferente de grande parte dos animais, aqui o homem deve participar das responsabilidades inerentes a este processo, inclusive porque o ser humano necessita de uma formação psicológica, moral, social e, para isto, o pai deve estar presente para integrar esta tarefa de formação do ser juntamente com a mãe. O processo não é apenas fisiológico. E, nisto, o humano difere de outras espécies animais.
Ainda assim, no momento de gerar, é sobre a mulher que fica a responsabilidade. E ela precisa entender que tem essa responsabilidade. Que isso foi dado a ela, não ao homem e, por isso mesmo, deve responder a isso. Não basta eliminar o ser que lhe traz essa responsabilidade apenas porque não quer assumir. Assim como seria um absurdo se um pai, durante a educação do filho, resolvesse eliminá-lo apenas para não ter de arcar com os custos de uma escola e outras despesas geradas por um filho. Também é um absurdo tanto quanto o aborto.
Mas o fato do argumento dizer que a mulher é dona do seu corpo e pode decidir o que fazer com ele também está fora de tempo. Isso é verdade durante o tempo em que o corpo da mulher é apenas o corpo da mulher. Ela pode decidir não ter um filho antes de engravidar. Decidir não ter relações sexuais, ou não tê-las fora de um relacionamento estável, fora do matrimônio, pode decidir até mesmo se prevenir para não engravidar. Tudo isso está no seu poder de decisão pessoal, enquanto seu corpo é apenas seu.
Quando, a partir do momento da fecundação, ela tem dentro de si outra vida, já não responde por si apenas. Agora é responsável por outra vida, por outro ser que dela depende, dentro do seu corpo, de seus cuidados para viver. Totalmente dependente. E aqui precisamos entender que não podemos simplesmente colocar este novo ser numa categoria de um objeto, de um apêndice, de um corpo estranho no corpo da mulher. A mulher agora não é apenas ela. Já não tem (durante um tempo determinado de 9 meses) o direito de decidir por si apenas. Tem a responsabilidade de decidir também pensando em outra vida. Foi Deus quem fez assim (ou a natureza, se preferir). Mas é assim.
Ela tinha todo o direito de decidir não engravidar. Antes. Agora não. Já não é mais sozinha. Agora responde por outra vida que dentro dela se desenvolve até estar pronta para sair e viver de forma autônoma. Pelo menos os sistemas essenciais como autônomos, porque a partir do nascimento, ainda depende dos pais para viver.
Portanto, a mulher tem sim o direito de escolhas sobre o SEU corpo. Não sobre o corpo de uma criança que está se desenvolvendo nela. Sua liberdade de escolha vai até o momento da fecundação. Inclusive pode decidir não engravidar. Não ter relações sexuais. É preciso entender que esse direito fica limitado durante o período que está gestando. E é preciso entender que essa característica não é uma escolha da sociedade. É algo inerente à sua condição de mulher. Faz parte da sua constituição de SER MULHER. É uma das características que a define como mulher e a difere do homem. Então precisa ter bem claro isso para fazer suas escolhas no tempo certo.

Em todos estes aspectos, não precisaria dizer que o ideal seria que toda gestação ocorresse por um casal que estivesse já estabilizado em sua relação. Num casamento, numa união em que ambos tenham, conscientes, a noção da responsabilidade de se ter um filho. De preferência, que já estejam unidos e estabilizados emocionalmente, que sejam maduros o suficiente para colocar uma nova vida no mundo. Em todo caso, se esse ideal não puder ser alcançado, ainda assim não justifica tirar a vida da criança por causa dos atos de 2 adultos que não pensaram no que estavam fazendo, ainda que soubessem das consequências.





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segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Aos mestres, com gratidão



A vida de todos nós é formada por um conjunto inimaginável de influências que recebemos, de várias origens, que irão influenciar nossa estrutura e formação para nos fazer ser quem somos. A família, a igreja, a escola, os amigos, a televisão e as músicas, a internet hoje em dia e tantas e tantas vozes que ecoam dentro de nós, as quais, se ouvidas devidamente, irão causar mudanças em nossa trajetória de vida. Como orienta a Bíblia, bom seria que nós ouvíssemos e guardássemos apenas aquelas boas vozes, para termos boas influências, ignorando as outras.
Na vida de qualquer pessoa, sua primeira influência é (ou deveria ser) a família, tanto cronologicamente, por serem os primeiros a ter contato e influenciar a vida, quanto por serem os que mais convivem nesta primeira fase de vida. Pelo menos deveria acontecer de serem os pais a ensinarem seus filhos, majoritariamente, durante seus primeiros anos de vida, o tempo durante o qual os pais têm a oportunidade de deixar uma marca indelével na vida de seus filhos que os tornem pessoas cheias de graça, sabedoria, firmeza e tantas boas características.
Mas hoje, quando às vésperas de comemorar mais um dia do professor, data que vem sendo esquecida pela maioria das pessoas, até mesmo nas escolas, quero recordar este outro grupo de pessoas maravilhosas que são, sem dúvida, depois dos pais, os que mais influenciam as nossas vidas: Nossos professores.
Talvez até mais que os outros familiares. Sim, porque alguns professores ficam com as crianças durante um ano inteiro, cerca de 5 horas por dia de segunda a sexta-feira e têm a oportunidade de deixar marcas em suas vidas, tão profundas e permanentes quanto aquelas que podem alterar os rumos da vida de alguém. Outros professores, em outras fases, ficam menos tempo diariamente com seus alunos, mas podem acompanhá-los por 3 ou 4 anos seguidos, durante toda a segunda fase do fundamental, ou o ensino médio ou faculdade.
Eu tive o privilégio de estudar minhas 3 fases em 3 instituições distintas, começando e terminando cada fase em uma instituição própria, todas na cidade de Campinas, embora já more, há mais de 15 anos, em Limeira. Meu 1º grau, ou ensino fundamental, estudei no Externato São João. O meu colegial, hoje ensino médio, técnico, na Fundação Bradesco, para me tornar um profissional da área de informática. E minha faculdade de Teologia no Seminário Teológico Batista Independente.
Em todos eles, encontrei pessoas maravilhosas. Não apenas os professores, embora os considere os protagonistas desta história. Mas diretores, coordenadores, funcionários e outros que complementam este trabalho, de forma tão corajosa e magnífica. Realmente, depois de tanto tempo, embora já tenha a oportunidade de falar isso a muitos destes que passaram em minha vida, pessoalmente, não posso deixar de registar aqui (e já deveria ter feito isso), de forma mais formal e perene, minha gratidão.

A todos estes, que estiveram presentes nestes 17 anos durante minha formação acadêmica formal, nas 3 escolas por onde passei, deixo meu MUITO OBRIGADO. MESMO! 
Muito obrigado do fundo do meu coração.

Não é demagogia nem atitude piegas dizer que vocês realmente fizeram parte do meu processo de aprendizado e formação da minha história, em cada momento distinto. É a mais sincera gratidão por tudo o que fizeram. Por dedicarem suas vidas, por deixarem suas casas, diariamente, para ir ensinar uma classe (onde eu estava), muitas vezes enfrentando condições adversas, frustrações, tanto pessoais quanto aquelas advindas do próprio ofício de ensinar. Mas ali estavam, para ali se dirigiam a fim de nos levar o conhecimento que também batalharam tanto para adquirir.
Neste tempo, muitos dos que foram meus professores já não estão mais aqui. Já se foram. Outros tantos já desfrutam de um tempo de mais descanso, aposentados e outros tantos permanecem na ativa, ainda dando aulas. Espero que todos tenham a noção de que suas vidas influenciaram tantas outras no exercício de suas atividades.
Não era apenas uma profissão, uma tarefa a ser cumprida em troca de um salário. Era transfusão de vida, de conhecimento, de formação. Só pode ser encarada se for considerada como uma verdadeira vocação, exercida através da profissão.
Mesmo aqueles que não foram tão dedicados assim. Claro, porque como em toda a profissão, há aqueles que ali estão, aparentemente, apenas para ganhar seu salário no fim do mês, sem noção do que estão fazendo. Alguns destes até marcam seus alunos de forma negativa. Mesmo assim, trazem ensinamentos de como não devemos agir, de como não devemos ser. E é importante que também convivamos com estes, a fim de se notar e perceber quão grandiosa é a atitude daqueles que se dedicam verdadeiramente a esta vocação. Afinal, se não existisse o feio, como definiríamos o que é bonito? Ou como diz a própria Bíblia, parafraseando, “até importa que hajam os maus, para que os bons possam se manifestar em nosso meio” (I Co 11: 19). Graças a Deus, estes são minoria e nem preciso citar estes casos aqui. Mas ele ajudam inclusive a entender o tamanho da beleza do trabalho daqueles que são verdadeiramente dedicados.
Aqui, mais uma vez, fica minha gratidão. Que Deus os recompense pela dedicação, não apenas à minha vida, mas às centenas, milhares de vidas que vocês tiveram a chance de influenciar. O que eu poderia fazer, além de agradecer, é fazer valer em minha vida tudo o que me ensinaram. Espero estar fazendo valer a pena. Saibam que suas vidas, a de cada um de vocês, professores, foi cheia de propósito e significado nisto que fizeram através desta vocação. Espero que se sintam plenos e satisfeitos com o trabalho realizado, que possam respirar fundo e dizer: “eu consegui. Fui um professor e ajudei a muitos encontrarem seus caminhos e pude lançar um pouco de luz na caminhada deles.”

Me desculpem os leitores em geral aqui, mas daqui pra frente vou deixar um super textão, preciso falar a cada um que deixou algo especial nestes tempos. Como disse, pude dizer pessoalmente a alguns. Mas outros, não sei se terei a oportunidade. Alguns eu até encontrei recentemente nas redes sociais. Espero que leiam isso. Outros não sei por onde andam, fica pelo menos minha intenção de que estas palavras os alcancem. De qualquer forma, talvez o texto daqui pra frente só interesse aos envolvidos, aos meus professores. Mas Quero registrar aqui.

Minha primeira escola, o Externato São João, foi uma verdadeira segunda família. Talvez até mais, visto que eram momentos difíceis na minha família de sangue. Muito obrigado ao diretor, Pe. Gilberto Cucas, que transformou aquela instituição em uma família como eu nunca vi em nenhum outro lugar. Muitos alunos daquela época compartilham do mesmo sentimento, que eu sei. As palavras de orientação e exortação partiram de um verdadeiro sacerdote do Senhor. Muito do seu exemplo de vida me ajudaram a decidir minha vocação, ainda que no ramo protestante, para me tornar um pastor. Até hoje lembro de muito das suas palavras, e as tomo por exemplo.
Ninguém esquece a primeira professora. A minha tinha nome de personagem de gibi, a “tia” Mônica. Professora do pré, ensinando a cartilha Caminho Suave. Ensinando a escrever, a ligar letras, formar sílabas, depois palavras e frases. Os primeiros passos na escola. Ela que nos recebeu, tão carinhosamente, nos primeiros dias de aula, quando as crianças são tão inseguras sobre tudo o que vai acontecer. Até hoje, tenho vivo na minha memória, aquele primeiro dia de aula. Subindo as escadarias, escolhendo um lugar para sentar, conhecendo os colegas com quem conviveríamos por 9 anos (não tinha essa noção naquele dia, claro), a professora vindo dar as boas vindas. As imagens estão claras em minha mente como num filme, quase quarenta anos depois! É impressionante como estes momentos marcam nossas vidas. A professora Mônica foi fantástica neste primeiro momento. Talvez muito do meu gosto pela escola e pelos estudos eu deva a ela, por causa das primeiras impressões fixadas, neste primeiro contato com a escola e as primeiras tarefas de alfabetização.
No primeiro ano, a “tia” Mara, com os ditados, nos ajudando a firmar a alfabetização. Naquela época, conseguíamos completar o primeiro ano totalmente alfabetizados. As palavras dela de que num ditado eu devo “primeiro ouvir tudo e depois escrever”, não parece, mas é um princípio que eu uso até hoje para tudo. E olha que funciona.
No segundo ano, a professora Rosiris é um capítulo à parte. Uma cópia da tabuada do 2 ao 9 todo dia e uma cópia de um texto de português, para aperfeiçoar a escrita aconteciam todos os dias e ainda nos 30 dias das férias de julho! Sim, a Rosiris mandou lição para as férias de julho. Com a professora Rosiris eu comecei a sentir a intensidade dos trabalhos de escola, aquele tipo de professora que “puxa” dos alunos “para seu próprio bem”. Para todos que reclamavam, ela sempre dizia “que seria bom para nós, no futuro”. E como ela estava certa. Que bom que eu tenho aquela recordação daquelas lições de férias da 2ª série. O que era a lição? Tabuada e cópia. Hoje em dia, quando vejo as escolas não usando mais a tabuada como maneira de ensinar as bases da matemática para as crianças, lembro da professora Rosiris e fico triste pelas crianças de hoje. Não imaginam o que estão perdendo, principalmente porque sei o bom resultado que isso trouxe. Na verdade, minhas filhas aprenderam tabuada à moda antiga, em casa, copiando e decorando, mesmo que na escola não seja assim.
Na 3ª série, meu primeiro professor homem, seu Domingos, também tinha suas características especiais. Assim como a Rosiris, todo dia seu Domingos mandava fazer a conjugação de um verbo diferente e um desenho à mão livre, a fim de desenvolver habilidades manuais. Mais uma vez, que pena que as crianças de hoje não conjugam mais verbos. Bom, mas ele aliviou um pouco e não mandou lição de férias. Não que eu me lembre.
Na 4ª série, a última vez que teria apenas 1 professora por ano, a “dona” Lourdes marcou muito este momento em que iríamos passar para o “ginásio” (fundamental II). Ela quase surtou quando viu que a classe não estava suficientemente preparada nas contas de dividir (mas em verbos, estávamos craques), mas conseguiu colocar tudo em dia. Mais do que conteúdo, foi um ano de grandes emoções. Escolha de “representante de classe” (eu fui o vice), primeira viagem fora da escola, como prêmio pelo bom desempenho na gincana de festa junina da escola e outros acontecimentos nos provavam que a vida de criancinha ficava para trás. Estávamos amadurecendo, e ela foi a professora certa para conduzir esta fase.
Aos professores desta primeira fase, só gratidão.

Na segunda etapa, a cada ano agora não mais apenas um professor, mas vários. Logo na 5ª série, Virgínia, Onofre e Cristina iriam acompanhar meus estudos pelos próximos anos. Também a Rosângela, Marcos e Domingos (o mesmo da 3ª série), junto com a Regina, Sílvio e Rosa. Nesta fase, a professora Rosângela, de Português, me apresentou o mundo da leitura de livros. Um verdadeiro universo que me acompanhou desde então, até agora. Os primeiros livros que tive contato me fizeram apaixonar pela leitura. A professora escolheu muito bem. Nunca mais parei de ler. Até hoje. E escrever também. Já publiquei até agora 7 livros e centenas de artigos em blogs, jornais e revistas. Embora isso seja fruto do conjunto de todos os professores que passaram pela minha vida, a professora da 5ª série de português foi quem possibilitou um primeiro contato marcante com os livros.
A professora Virgínia, de educação artística, contrariando o padrão, foi quem me mandou fazer minha primeira pesquisa para entregar um trabalho na escola. O tema era sobre o Folclore. E, bem, primeiro eu descobri que não seria adepto, a partir dali, dos trabalhos e textos muito curtos. Esta primeira eu fiz com 11 páginas. Datilografadas na máquina de escrever. Também foi ela quem compreendeu, quando eu, neste exagero de trabalho, acabei atrasando a entrega dele, porque estava participando de uma peça teatral e não soube organizar os horários. Ele me deu um prazo extra. Que bom que houve compreensão. Entreguei o trabalho completo alguns dias depois.
O professor Onofre, de história, não deve nem saber, mas lá pela 7ª série, durante as aulas, deu uma dica para os alunos da classe. Disse assim: “façam um colégio técnico”. Simples assim. Eu fui me informar o que era isso e segui a orientação, achei que era bom. Me formei técnico e sigo esta profissão até hoje. Mais que isso, dou a mesma orientação e dica para todo jovem que encontro pelo meu caminho, porque realmente iniciar a profissionalização por um curso técnico, de nível médio, é muito bom. Claro, lecionando história, uma de minhas 2 matérias preferidas (a outra era matemática!), também pude aprender muito com o raciocínio crítico do professor Onofre, a cada aula, entendendo que história não é apenas decorar datas, mas entender os processos e as atitudes que levaram as pessoas a fazer o que fizeram e evitar, atualmente, cometer os mesmos erros. História, que já é ótima, nas palavras do professor Onofre, se tornava fantástica.

Na 6ª série, minha gratidão à professora Elza, ao João, Hermes, Dalilo, Solange e Beth que eram os novos, além daqueles que já me acompanhavam.

Na 7ª série, o que dizer da professora Maria Rita de Português? Ela foi a que marcou uma divisão de águas da língua portuguesa na minha vida. Produção de textos, especialmente poesias, mas também 2 livros, artesanais, dos quais 1 tenho guardado até hoje. Se a Rosângela, na 5ª série, me apresentou o mundo da leitura, a Maria Rita me apresentou o da escrita. Como já disse, segui em frente nisso. Português não era uma das minhas matérias preferidas, mas se tornou. Amo ler e escrever. O Festival de Poesias (FEP) que ela organizou aquele ano, novidade na escola, deveria ser feito em toda escola, com concursos internos de textos, especialmente poesias, apresentados e declamados pelos próprios autores num festival interno da escola. Ela realmente elevou, na minha vida, a língua portuguesa e a escrita a um novo patamar.
Minha gratidão também à Heloísa, Sarita e Cidinha. Nunca me esqueço quando a Heloísa, professora de ciências, além das excelentes aulas que dava a cada dia, deu um trabalho para os alunos criarem, inventarem jogos pedagógicos que seriam compartilhados com crianças especiais (síndrome de Down). Isso, numa época que nem se falava em inclusão e interação. Criamos os jogos. No dia marcado, alunos da APAE vieram à escola, e cada criança especial, junto com cada um dos grupos de alunos ali na nossa escola, veio conhecer e aprender a jogar o jogo que havíamos inventado. No início da década de 90, esse tipo de intercâmbio era uma verdadeira revolução. Ninguém falava disso. Mas ela teve essa visão. E nós pudemos, naqueles poucos momentos de interação, conhecer muito mais essa realidade e essas pessoas, que são realmente especiais, no melhor sentido da palavra.

Na 8ª série, ano de formatura. Expectativas. Estudos e provas para ser aprovado no colégio técnico. Mas ainda deu tempo de fazer muita coisa. O professor Caiá se tornou um amigo, além de professor, porque além da matéria de classe, história, se tornou o coordenador do grupo de Pastoral da Juventude, da qual passei a fazer parte. O engajamento social que ele possibilitou extravasou a sala de aula. Quanto aprendizado. Que fase boa. Essa participação abriu, extra-escola, um novo capítulo na minha vida. Meu primeiro artigo publicado num jornal foi escrito por influência do professor Caiá, que me apoiou em tudo. É muita gratidão pra expressar.
Aos professores Neide, Zuleika, Ocimar e Reami também registro minha gratidão.
E assim, essa primeira fase do aprendizado, no ensino fundamental, chega ao fim. Durante a 8ª série, eu fiz a prova do vestibulinho para entrar na Fundação Bradesco e cursar Processamento de Dados e fui aprovado. Esta seria minha escola nos próximos 4 anos.

Eu tenho mais um monte de professor para agradecer no Ensino Médio. Numa fase em que eu já precisava trabalhar, para garantir o sustento, dadas as condições precárias de casa, precisei reunir forças para estudar de noite, enquanto trabalhava 9 horas por dia. Não fossem alguns professores, nesta fase, extraordinários, não teria conseguido passar por essa etapa.

O de matemática, Eduardo, foi demais. Ele conseguia mandar um conjunto de 500 a 1000 exercícios extras de matemática por bimestre para fazer em casa, valendo nota, que eu tinha de fazer nos fins de semana, porque trabalhava durante a semana de dia, e conseguia mandar isso pra gente sorrindo e o melhor: nenhum aluno conseguia não admirar este professor, com tudo isso.

O professor Élcio era responsável por várias matérias técnicas de informática, durante o curso todo. Pôde nos acompanhar por um bom tempo e, além de um ótimo professor, é também um ser humano admirável. Sem qualquer atitude de sonegar informação durante o ensino, muito pôde nos transmitir para o início da vida profissional. Que Deus o abençoe e recompense pela dedicação.

Tão admirável quanto, foi o professor Nilton. Apenas preciso lamentar só ter tido 1 ano de aula com ele. Mas sua capacidade de ensinar matérias técnicas, naquele primeiro ano, era incrível.

À professora Dulcelena, de química e também física, coube me deixar, pela primeira vez, de exame na escola. Eu havia faltado num dia que ela deu um trabalho para nota e nenhum colega me avisou. No dia de entrega, eu não sabia de nada e, ao contrário da professora da 5ª série que prorrogou meu prazo, a Dulcelena apenas me deu um 0,0 na nota deste trabalho. Fiquei de exame em química no 1º ano do ensino médio. Mas acho que ela acabou percebendo que poderia ter me dado uma outra chance, que havia sido dura demais, porque depois, quando eu fiz um trabalho de programação sobre a tabela periódica, ela fez questão de ajudar, me deu até um livro de química para eu poder melhorar meu trabalho. No fim das contas, entendo que muitos alunos pra administrar, ela não teria como saber se eu estava realmente falando a verdade sobre não saber do trabalho. Ela estava fazendo o trabalho dela. Tenho o livro que ela me deu guardado aqui até hoje. Não fiquei também de exame de novo no ensino médio.

Aos professores Carla e Arnaldo, de matérias técnicas, assim como Angela, Marco Antonio, Marcos Jesus só tenho a agradecer por aqueles, quando mais e mais conceitos técnicos me ajudaram a moldar meus conhecimentos profissionais. Que bom que esses professores fizeram seu trabalho de forma competente. Muito obrigado.

Naquela época, o curso técnico ocorria simultaneamente às matérias normais. Embora com menos tempo para esse tipo de aprendizado, tenho certeza que os professores de matérias de núcleo comum naquele curso técnico ficavam ansiosos por poder transmitir para nós as matérias em seu conteúdo completo, o que não era possível por causa do tempo disponível. Mas conseguiram fazer muito no tempo disponível. Obrigado aos professores Antonia, Fátima e Andréia.

A faculdade foi o tempo de preparo para minha vocação. Mais que uma formação técnica, embora as matérias fossem técnicas, era um tempo de preparo humano. Realmente é necessário agradecer a todos que nessa etapa marcaram minha formação.
Especial gratidão ao professor, pr. Apparecido, grande amigo até hoje, diretor daquela instituição no tempo em que lá estudei. Um dos grandes conhecedores de grego deste país, professor de várias matérias teológicas, impossível dimensionar o aprendizado que pude absorver deste grande homem de Deus, em todos os sentidos. Seu caráter e exemplo são marcantes e claros até os dias atuais. Muito obrigado professor Apparecido.

Os professores Grillo e Inhauser também trouxeram grande conhecimento à minha formação teológica. O conteúdo transmitido por eles é de grande valia e, por isso, tenho muito a agradecer.

Professor Almiro, possibilitando meus primeiros contatos com a filosofia e um pensamento mais aprofundado, poderia ter permanecido na instituição por mais tempo. Precisou lecionar em outra cidade, e não pudemos continuar usufruindo dos seus conhecimentos. Que pena. Sou grato pelo tempo que pude aprender com ele.

Aos professores Narcy, Lars Erick, Bertil e Leif Ekstrom, João Milesi e Alexandre minha gratidão não apenas pelas várias matérias ministradas em teologia, mas também pelo exemplo de vida missionária, alguns deles vindo de outros países e dedicando aqui no Brasil suas vidas ao ensino. Àqueles que aqui nasceram, igual gratidão pela dedicação em ensinar, para que eu pudesse formar as bases do meu conhecimento teológico e de relações humanas. Muito obrigado.
Ao Narcy eu submeti meu primeiro rascunho, do meu primeiro livro que escrevi, naquela época. Ele leu com atenção e me retornou sugestões que apliquei ao mesmo naquela época, embora somente agora, há pouco tempo, eu tenha conseguido publicar aquele material. Minha gratidão, em especial, a ele, por essa atenção especial com o material desenvolvido por um aluno iniciante em teologia. Era meu primeiro ano no curso. Mas ele deu esta atenção necessária. Obrigado, professor.

Cada um participou em algum momento de minha história e a construção da minha identidade têm a participação de cada um deles. Meu desejo é que Deus abençoe a cada um. Minha gratidão é sincera.
Parabéns, pelo dia dos professores.
Não somente hoje, mas sempre.



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segunda-feira, 23 de setembro de 2019

O Aborto - Responsabilidade do homem


Mas esta situação nos leva inevitavelmente a outra, não menos importante. A de que uma gravidez é fruto do trabalho de duas pessoas: um homem e uma mulher. E embora a mulher carregue (literalmente) a responsabilidade toda dentro de si, se olharmos sob um aspecto físico, não podemos negar que o homem tem igual responsabilidade (ou mais, se considerarmos que a ele caberia cuidar e proteger da mulher também, durante e após sua gestação) sob um aspecto ético, moral e psicológico. A geração de uma criança é obra de 2 pessoas: um homem e uma mulher. Mas se o homem não assume sua responsabilidade, fica muito fácil (circunstancialmente falando) para ele fugir desta responsabilidade. Basta “sumir”. Para a mulher, não tem como sumir assim.
Para onde ela fugir, a criança irá com ela, dentro dela. Então, é necessário que a mulher entenda que o aborto não é uma saída, porque ela precisa assumir a responsabilidade de seu ato. Mas é igualmente necessário entender que o ato do homem que some, que abandona deliberadamente uma mulher que deixou grávida (quando ele sabe do fato), é um ato tão grave quanto um aborto.
Só não é um aborto em si porque a criança não está dentro dele. Mas é tão grave e intenso, do ponto de vista moral e ético, quanto à mulher que realiza o aborto. O abandono dele é tão grave quanto o aborto dela. Tem o mesmo peso e não deve ser aceito, pois determina a morte, mesmo que não seja física, de uma vida. Em muitos casos, seu abandono é o que determina a morte física da criança e a decisão da mulher em abortar. Sim, porque vendo-se abandonada e desprotegida, muitas vezes é esta atitude de abandono do homem que determina a decisão dela de abortar. Então, quando o motivo do aborto é o abandono do homem, a decisão é responsabilidade de ambos.
Da mesma forma quando se fala da saúde pública, a questão deveria ser resolvida antes. Se ambos não queriam um filho, deveriam ter se prevenido antes. Não é uma terceira pessoa, uma criança que ainda está sendo gerada, que deve assumir, sozinha todas as consequências de um ato do qual sequer participou.
A responsabilidade do homem é tão grande quanto à da mulher. Portanto, ao invés de lutar para que se legalize o aborto, deveriam haver leis mais duras para pais que abandonam suas parceiras grávidas. Não apenas exigir uma ajuda financeira para dar de comer à criança. Esse foi um passo importante porque antigamente, nem isso era dado como responsabilidade ao homem. Mas uma penalidade se o mesmo fugiu e abandonou quando a mulher esteve grávida, se ele sabia. Algo com a mesma gravidade de “abandono de incapaz”, pois é isso que está ocorrendo. E a ele deve ser dada uma responsabilidade pela lei igual à que é dada à mulher pela sua condição natural de não ter como fugir desta responsabilidade. O caminho não seria aprovar o aborto, mas exigir dele que assuma sua responsabilidade. Neste sentido, está faltando uma dureza maior na lei.
Mas aí, mesmo com a presença de ambos (do pai e da mãe), alguém pode dizer que este pai não abandonou, mas também não deseja, junto com a mulher, ter a criança. Bem, aí novamente vamos falar do interesse da criança. Então, se não queriam ter um filho, que se prevenissem antes. Se deixaram escapar a prevenção, então que assumam a responsabilidade juntos. Mas não podem, mesmo que seja uma decisão dos 2, decidir pela não existência de uma criança que não pode sequer dar sua opinião.
Quando o argumento para o aborto é a insegurança da mulher de ter de criar filho sozinha, então creio que o caminho deveria endurecer as leis que exigem que o pai assuma suas responsabilidades. Pelo menos financeiras e, minimamente possível, as de apoio emocional à criança. E que se diga às mulheres que, mesmo quando o pai não escolhe participar junto da educação da criança, antes do aborto existem a opção de entregar para adoção e lembrando que a decisão, de qualquer forma, deveria ter sido a prevenção antes.





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segunda-feira, 2 de setembro de 2019

O Aborto


O aborto é um assunto que, em si mesmo, abarca uma série de outros assuntos. É muito amplo e, ao mesmo tempo muito simples. Se devemos considerar a individualidade e a decisão da mãe, devemos também considerar a individualidade da criança. Particularmente, acho que a opinião da criança que seria morta num aborto, que não tem a chance de ser ouvida, deve ser muito considerada. Se devemos considerar a questão de saúde pública quando muitas mulheres se submetem a procedimentos em locais sem regulamentação, não podemos igualmente deixar de falar sobre a responsabilidade do pai. Se o corpo é da mulher, não podemos deixar de falar da prevenção e das consequências das atitudes.
Um dos primeiros argumentos que se levanta quando os defensores da legalização do aborto se pronunciam é que esta é uma questão de saúde pública. Pelo fato de que muitas mulheres praticam o aborto, e o fazem em locais não regularizados, sem condições de saúde que levam, não poucas vezes a complicações de saúde da mulher ou até mesmo à sua morte, após terem promovido a morte do feto de formas crueis para o feto e pouco cuidadosas para a mãe.
Por isso, dizem que se o aborto fosse legalizado e pudesse ser praticado “à luz do dia”, em locais regularizados e saudáveis, as mulheres teriam melhores condições de vida após o “procedimento”. Mas o bebê continuaria morto!
E se a questão é de saúde pública, não me parece muito inteligente preocupar-se com isso apenas quando a mulher já esteja grávida, no que se refira à possibilidade de realizar um aborto. Seria muito mais importante para a saúde promover o uso de preservativos, uma vez que além da questão da gestação, existe o risco de transmissão de doenças. Ora, se a mulher ficou grávida, é porque teve relações sexuais sem preservativos. Além de ter ficado grávida “sem desejar” (!!??), teria ainda corrido o risco de ter contraído ou transmitido alguma DST.
Me parece que o argumento de o aborto ser uma questão de saúde pública apresenta-se em um momento errado. Se a preocupação é de saúde pública, então que se invista muito mais em conscientizar homens e mulheres que existe a necessidade de se proteger. E não me parece nem um pouco razoável o argumento de que se o casal não foi capaz de pensar nisso previamente, se não se previniu quando deveria, se não usou os devidos mecanismos a fim de evitar uma gestação não desejada, então não me parece razoável que a saída seja sacrificar a vida de alguém que, além de não ter participado do ato de irresponsabilidade (de não usar preservativo) e além deste alguém não ter possibilidade de dar opinião, ainda seja o que venha a ser sacrificado neste processo todo. Isso me parece que está se ensinando à sociedade que quando se tem uma atitude irresponsável, bastaria eliminar as consequências. Não é bem assim. Se um bebê foi concebido por duas pessoas que não pensaram em se prevenir, então é necessário que se ensine que precisam assumir suas responsabilidades. Livrar as pessoas de assumir suas responsabilidades não me parece muito educativo nem muito bom para a sociedade, a médio ou longo prazo. Se todos se acostumassem que as consequências de seus erros podem simplesmente ser eliminados, então onde estaria a responsabilidade? Pior ainda se este ato pudesse ser feito com o aval, consentimento, apoio e financiamento do estado, do dinheiro público, como pleiteiam quem defende esta causa. Não me parece nem um pouco razoável.
Se a questão é de saúde, então precisa pensar nisto antes. No momento da concepção, uma vez que, além da gravidez, há outros riscos relativos à saúde envolvidos neste momento.




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