segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Não precisamos mais de alfaiates


«… Teríamos, assim, não mais do que duas alternativas: repetir a tradição recebida ou arranjar um modo de mediá-la à mente moderna. Se o teólogo apenas repetir a tradição, sua teologia se torna supérflua, uma vez que a tradição está aí e todos têm acesso a ela, entendendo-a ou não. Senão quiser ser supérfluo, torna-se, então, um teólogo de mediação da tradição. Este é o segundo sentido, e é positivo. Poderíamos dizer que a teologia por definição, é sempre de mediação …» Paul Tillich
Tillich expressa o pensamento que no termo "teologia" está subtendida a ideia de mediação da tradição. Com isto, temos de buscar na história (captar da história) da teologia aquilo que é relevante e importante para o "momento nosso". E, de acordo com Tillich, teologia (propriamente dita), é tornar atual (contextualizado) o que nos ensinou a história (positiva ou negativamente). Ou, usando as palavras de Tillich, no fechamento da idéia: " … Eu mesmo deixaria imediatamente de ser teólogo se tivesse que abandonar a tarefa da mediação. Pois a alternativa a esse tipo de teologia é a repetição e a teologia não é repetição." (!)
Isto me leva a pensar em três questões: a. A relevância da teologia para o momento atual; b. a busca dessa relevância; c. quantos querem esta relevância
Relevância da teologia para a atualidade
Vivemos o imediatismo, onde tudo precisa ser feito/resolvido "ontem" (!). Não há tempo para reflexões, para análises, que geram a ligação da tradição (e falo tradição enquanto história) com o tempo atual. A "tecnologização" do mundo nos trouxe esse imediatismo.
Diria que estamos numa terceira fase do capitalismo. Apesar do seu embrião ser encontrado no feudalismo (os burgos), ele só veio a se firmar com a revolução industrial, a qual possibilitou maior produção de excedentes e geração de lucros. Intensificou a relação proprietário versus proletariado.
A segunda foi a revolução financeira, onde não mais os detentores dos meios de produção, mas os detentores do dinheiro controlam os outros. Nesta fase, os bancos, os investidores dominam.
Ainda vivemos esta fase. Mas entramos na revolução da tecnologia/informação. Hoje, ainda que no seu embrião, quem detém a tecnologia tem o domínio e controle do restante. O imediatismo, essa corrida pelo "capital" (seja ela máquinas, mão-de-obra, tecnologia ou dinheiro) torna as pessoas cada vez mais auto-suficientes. Não há lugar para teologia, pois "meu" teólogo particular é a internet! "Eu" encontro respostas lá (sejam certas ou não, mas são respostas). A reflexão precisa ser rápida, mas como fazê-la rapidamente se ela exige tempo de reflexão, tempo este que a corrida pela sobrevivência não nos dá?
A busca da relevância
A reflexão teológica neste contexto já não é mais interessante às massas. Houve um tempo que o foi. Em Lutero, foi a reflexão teológica que cativou as massas. Nenhum reformador teria sucesso no mundo atual exatamente pela falta de tempo! Em termos práticos, se há um problema social, precisa ser resolvido e não analisado. As pessoas querem respostas!! Se socialmente aplicássemos o método de maiêutica, tiraríamos a paciência das pessoas antes de tirar o conhecimento de dentro delas!! Sócrates também fracassaria hoje.
É preciso agilidade (não porque seja o melhor, mas é resposta ao imediatismo do momento presente). O marceneiro e a costureira já não têm seu espaço hoje. As roupas prontas e lojas de móveis em série estão na crista da onda. Veste-se a roupa de gosto comum, feita a média da população. Massifica-se pelo uso generalizado dos jeans e camisetas. A individualidade vai cedendo espaço para a produção/rentabilidade.
A mesma tendência atinge o pensamento. Para me fazer claro, diria (radicalizando): "Já não adiante mais ensinar a pensar, não há tempo. A tendência é dar "respostas prontas".
Quantos estão dispostos?
Deixe-me esclarecer para não ficar no absurdo! A questão é que a ordem mudou. Não refletimos (analisamos) mais sobre as origens, mas sobre as conseqüências. E o que está acontecendo na prática: precisamos (os teólogos) aprender a lidar com isso. Não sugiro que venhamos a praticar isso, apenas que encaremos a realidade e aprendamos a lidar com isso!
Chega um movimento. Exércitos se levantam defendendo e criticando. Dão respostas sobre algo que não produziu ainda frutos, apesar da grande maioria trabalhar nas suas avaliações com os resultados. Poucos são os que dão respostas baseadas em reflexões teológicas. Não dá tempo! O movimento está aí e cobra posicionamento!!!! E necessário mais reflexão. Mas não está sendo possível. Como agir?
Não vou dar respostas, vou deixar para você refletir.



___________________________________________
se gostou deste texto, compartilhe clicando abaixo
e clique em “seguir” ao lado para acompanhar novas publicações.


conheça meus livros, publicados na amazon.com.br, disponíveis para compra em versão eletrônica e papel (procure pelo autor Lucas Durigon)