segunda-feira, 19 de abril de 2021

Não existe viv'alma mais honesta do que eu

Quem já ouviu essa frase, 
pronunciada pelo excelentíssimo ex presidente, 
ex condenado, ex trabalhador, ex sindicalista 
e atual ser abjeto da nossa nação 
deve ter achado engraçado ou ter ficado indignado.



Sim, porque qualquer trabalhador mais ou menos honesto neste país sabe que uma declaração dessas, vinda de quem veio, só pode ser piada. E, em certa medida, é. Mas, olhando do ponto de vista do próprio ex presidente Lula, eu até que entendo o que ele quis dizer. Não concordo, mas entendo.

Embora, dita por quem foi dita, essa declaração beira ao absurdo, a verdade é que muitos dizem coisas parecidas todos os dias, das quais outras pessoas acham absurdo ou que seja piada. Isso acontece porque este tipo de declaração é feita por pessoas que vivem fechadas em ambientes tão profundamente arraigados em algum tipo de conduta, que se veem como exemplos a ser seguidos, apesar de serem pessoas de conduta semelhantemente ruins.

É que as pessoas baseiam este tipo de conclusão de acordo com a referência moral e de conduta que têm. Eu explico:

Tomemos o Lula, por exemplo, nesta declaração dele. Vivendo no meio em que ele vive, ele deve ter visto e vivido coisas absurdas lá, exemplos de desonestidade que fariam o tinhoso ficar arrepiado. Acredito que, talvez, a sociedade brasileira um dia venha a saber de coisas que vão deixar muitos mais de cabelo em pé ainda do que já estão. Talvez o ex presidente saiba de coisas que o façam pensar que o que ele fez não é nada ou, como se diz por aí, “é fichinha”. Assim como no passado, ficávamos indignados com os absurdos do Paulo Maluf, que era inclusive citado como exemplo de corrupção, quando se falava do assunto, e hoje é tratado como um estagiário na área, talvez venhamos a perceber que o Lula também estava apenas aprendendo o ofício, quando soubermos dos verdadeiros desmandes nesta área.

Neste sentido, o ex condenado Lula (porque o STF disse que ele não é mais condenado, apesar de não ter sido inocentado!) se vê num meio tão moralmente corrompido que se acha “um santo”, se vê, a si mesmo, como exemplo de conduta e pensa de si mesmo que o que ele fez não é nada. Porque, comparado aos seus companheiros na política, talvez ele seja, realmente, um aprendiz. Essa é a percepção dele que, num meio tão sujo, se vê limpo, ainda que esteja coberto de lama. Porém, quando algum brasileiro trabalhador olha para ele, o enxerga como o mais sujo de todos, porque a referência do trabalhador é outra. Embora, no meio de qualquer grupo social haja um pouco de sujeira e desonestidade, em alguma dose, não é nada que se compare ao que fazem alguns dos nossos políticos.

A questão toda é sempre o ambiente do qual temos a referência de comparação para analisar este tipo de coisa.

Funciona assim: imagina que a honestidade, ou mesmo outras características morais como sinceridade, bondade, generosidade e por aí vai, pudessem ser medidas de forma objetiva, como quando respondemos uma prova de matemática e podemos dizer que nota tiramos. Imagina que estas características citadas acima pudessem receber notas de 0 a 10, como nas provas escolares. Então, imagina uma pessoa que tem honestidade nota 4, mas que vive num meio e num grupo cuja honestidade tem a média 2. Esse que tem nota 4, vai se achar o máximo da honestidade, porque ele está acostumado a ver, a viver no meio de pessoas que têm essa característica inferior a dele, embora essa nota 4 (numa escala de 0 a 10) seja boa ali naquele meio, ainda é uma nota baixa, inferior ao necessário para, digamos, “passar de ano”. Não é aprovável. Diríamos que, se uma pessoa tivesse nota 7 de honestidade, embora não fosse perfeita (quem é?), teria uma nota suficiente para “passar de ano” ou, pelo menos, ser aceitável na sociedade como alguém considerado “honesto”. Mas aquele de nota 4, só pensa estar bem ao se comparar com o seu grupo, nota 2. Porque, de resto, ele está bem ruim.

O fato é que quando esta pessoa nota 4, que se acha o máximo enquanto está vivendo naquele grupo cuja honestidade não passa de 2, muda-se para um grupo cuja honestidade tem média 8, por exemplo, então ele vai se sentir um verdadeiro lixo. Porque, o que antes era superior e, por isso mesmo, ele não via a necessidade de melhorar, afinal de contas, já estava bem acima da média daqueles com quem convivia, agora convivendo num local cuja média é muito maior que a sua, será visto pelos novos pares como alguém realmente desonesto.

Esta é a questão da referência de comparação que todos usamos, sem perceber, o tempo todo, para nos qualificarmos a nós mesmos e aos outros. Geralmente, nossos julgamentos são feitos com base nessa comparação relativa. E isso não é bom. O ideal seria que nossa referência fosse algo máximo, aquilo que fosse o exemplo máximo em cada área (honestidade, sinceridade, bondade, generosidade, inteligência, cultura etc.) e, buscando esse máximo, agora sim uma referência incontestável, considerássemos que ainda falhamos, por não ter alcançado tal medida. Essa consciência humilde de nossa fragilidade nos manteria humildes e dispostos a melhorar sempre, e não ficar estancados onde estamos, por achar que já somos superiores.

Esse mesmo tipo de problemas na comparação se dá em várias áreas. Imagina que você é um aluno de escola, num lugar onde a média da sua classe em matemática não passa de 3, mas você mantém uma média de 6, nesta classe. Parece ótimo, só que a escola exige 7 para passar de ano. Então, mesmo sentindo-se o máximo, no local onde está, por causa dos outros, ainda assim não conseguirá passar de ano, se aprovado. E, mesmo que seus pais digam “olha, você precisa melhorar, porque desse jeito não vai passar de ano”, você pode sentir-se tentado a argumentar com seus pais “mas melhorar o quê, se já sou o melhor da classe?”. E essa “verdade” é apoiada numa referência deturpada, ao se comparar com o restante da classe, toda de reprovados.

Então, numa escola, numa escala de 0 a 10, existe o excelente, o máximo, que é o 10, o que deveria ser o objetivo de todos. Mas existe o aceitável, o aprovável, que é o 7. Abaixo disso, não é aceitável, e a escala desce, até o máximo reprovável, aquela situação em que “não tem jeito”. Porque quem tem 6 ainda está perto de se tornar aprovável. Mas e quem não sai do 2 ou 3, será que tem jeito? Somente com muito, mas muito esforço mesmo. Eu diria o mesmo para a questão da honestidade. Somente com muito esforço. Mas, o primeiro passo para quem deseja sair de um nível reprovável, é admitir que precisa melhorar. Assim, o aluno com nota 6 numa classe média 3, precisa entender que ser o melhor nestas condições não é suficiente. Ele não pode se comparar com os outros alunos de sua classe, porque nem ele, nem os outros conseguirão nota mínima para aprovação, que é 7, e serão reprovados. Mas, enquanto este aluno se julgar o melhor, naquela classe, nunca passará de ano! Entende a analogia?

Mas eu entendo, do ponto de vista do ex sindicalista Lula, que ele se julgue a alma mais honesta do Brasil. Na verdade, o meio ambiente onde ele vive, pode até ser que com nota 4, se julgue melhor do que o grupo, com média 2! A verdade é que ele não tem mérito, nesta área, sequer para ser aprovável (ter uma nota, digamos 7). Que dirá para ser o melhor (nota 10).

Essa analogia toda das notas é só para nos fazer refletir e perceber que muitos de nós julgamos assim em muitas coisas. E tornamos nosso julgamento falho, muito corrompido pelas circunstâncias e meio onde vivemos.

Eu poderia ainda dar o exemplo de um adulto formado no ensino médio, que vive numa cidadezinha onde a grande maioria não tem sequer ensino fundamental completo, onde muitos sequer saibam ler e escrever. Esse adulto, que tem o ensino médio e se julga o “guru” e o sábio daquela cidadezinha, cuja inteligência tem, digamos, uma nota 5 num local onde a média é 3, poderá se achar o homem mais inteligente do mundo, até mudar-se para um local onde a maioria da população tem formação superior e muitos têm doutorado. Bem, neste novo local, aquele sábio da vila, passa a ser considerado e visto como um ignorante. É que, no novo local, que tem uma nota 8 no quesito conhecimento, vai considerar pouco aquela nota 5 do homem que veio da vila com nota 3.

Tudo é uma questão de referência. De saber “comparado ao quê” eu me avalio.

Por isso, acredito que todos deveríamos ter como base o máximo. Uma referência absoluta, não relativa. E então, buscar alcançar esse máximo (10), sabendo que já será suficiente se, nesta busca, formos aprovados (com nota 7), e pudermos então buscar melhorar para, aí sim, contribuirmos com a melhoria do mundo ao nosso redor. O problema é que a sociedade tem diminuído muito sua referência para estas questões. Tem diminuído muito seu padrão de qualidade e de exemplo a ser seguido. E aí, qualquer “zé ruela” passa a ser modelo a ser seguido, porque a média vai ficando cada vez mais baixa. Lula chegou a se comparar a Jesus Cristo. Agora, já pensou, trocar o exemplo máximo da história mundial, o filho de Deus, pelo cachaceiro Lula como exemplo a ser seguido? Pior é que muitos já fazem isso.

Mas a verdadeira referência, o modelo a ser seguido, está bem acima de tudo isso. O exemplo de Jesus, da Bíblia e, a partir destes, também dos grandes homens da história, que têm sido cada vez menos conhecidos pela sociedade.

É que muitos preferem escolher um exemplo a ser seguido mais simples, para não se sentir tão abaixo e não ter tanto trabalho assim para melhorar. Acredito ter sido numa tirinha do Garfield (o gato comedor de lasanha) que li certa vez: “Quer se sentir um vencedor? Cerque-se de perdedores.”. É uma maneira de sentir-se melhor, embora não o torna um verdadeiro vencedor.

Precisamos manter a referência lá acima, mesmo que não consigamos alcançar. Mas, pelo menos tentar, para manter a média mais alta. Senão, daqui a pouco, em nossas escolas, nota 4 será suficiente para passar de ano, daí imagina o bando de analfabetos formados que teremos espalhados por aí.

Lucas Durigon


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