Estão pedindo 12% de reajuste, num período em que a inflação foi
de 2,84% segundo o IPCA e não chegou a 4% em nenhum outro índice de
medição. Agora vamos ver os méritos de se pedir um aumento desses
e os motivos pelos quais estão fazendo greve.
Primeiro, vamos analisar os objetivos de uma greve, nos âmbitos da
iniciativa privada e do poder público. A greve, ferramenta de busca
pelos direitos de um trabalhador, muito usada no passado, é um
direito garantido em constituição. Significa que um trabalhador não
pode ser penalizado por fazer a greve, não pode ser demitido por
isso, desde que ela tenha sido aprovada em assembleia da categoria,
geralmente conduzida pelo sindicato. Mas ser um direito não quer
dizer que ela deva sempre ser usada, em qualquer situação e de
qualquer maneira. Parece que os trabalhadores atuais se esqueceram
dos objetivos de uma greve.
No âmbito da iniciativa privada, o que ocorre é que quando numa
grande empresa ou num segmento (metalúrgicos, por exemplo), todos os
funcionários entram em greve, a produção para. O empresário fica
sem produzir e terá prejuízos, ainda mais se tiver que cumprir com
prazos de entrega a clientes importantes, pois pode perder não
apenas aquele pedido, mas o cliente como um todo. Quando os
funcionários entram em greve, a fim de pressionar um empresário, o
interesse está em fazer o empresário ceder a fim dele não ter
prejuízo e dos funcionários conseguirem o que querem: aumento de
salários, mais benefícios etc. Há muitas outras questões
envolvidas aqui, mas geralmente o empresário ouve as reinvidicações
e entra-se num acordo que seja aceitável para ambos os lados. Neste
caso, só existem 2 partes envolvidas. Os clientes daquela empresa só
querem saber de seus pedidos atendidos, não estão nem aí para a
greve. Se aquela empresa não os atender, alguma outra o fará. Aqui
também há jogo político, mas funciona de outro jeito. Não vou
entrar em detalhes disso agora.
Já no âmbito do poder público, a dinâmica é diferente. O
servidor público entra em greve para que a população fique sem os
serviços a fim de pressionar os políticos responsáveis a lhes
atenderem em suas reinvidicações. E aqui, há de se considerar
muitos pontos, dos quais vou resumir em 3.
Primeiro, considerar que os serviços públicos são de caráter mais
necessário, mais básico às necessidades do ser humano (o poder
público não oferece peças automobilísticas para montadoras, mas
educação, saúde e segurança) e os que recebem o serviço público
são geralmente os mais necessitados, por não terem condições de
pagar pelo particular. Por isso, pessoas de carne em osso, com
necessidades reais (uma consulta necessária, filhos indo para a
escola etc.) são afetadas. Depois, há de se considerar que a
dinâmica tem muitos elementos mais políticos do que simplesmente
fazer o “patrão” sentir no bolso o prejuízo. Na iniciativa
privada, quem é afetado pela greve e sente o prejuízo é o próprio
que irá (ou não) conceder o aumento.
Segundo, no poder público, o político não sente nada. Não é
afetado pela paralisação. Os prejudicados são outros. Ele só irá
atender se houver uma pressão popular, a fim de ameaçar sua posição
e ambição política. O político em si não sente nada com a
paralização. Prejudica-se uns para tentar motivar outros a tomar
atitude. E prejudica-se os mais necessitados. Não me venha,
portanto, o sindicato dizer que está lutando pelos trabalhadores.
Está prejudicando todos os trabalhadores que são prejudicados com
esta medida. Portanto, a questão da greve, no poder público, é uma
questão geralmente política. Ganhar o que se quer através da
pressão popular, causada provavelmente por causa do seu prejuízo.
Além disso, e ainda mais em tempos de contribuição sindical não
ser mais obrigatória, parece apenas uma maneira do sindicato
“mostrar serviço”, em detrimento dos trabalhadores que
necessitam dos serviços públicos.
Terceiro, deveríamos considerar então que no poder público, para
que a população exerça pressão popular, deve se solidarizar com
os anseios do funcionalismo público. Embora, no final das contas, a
ideia seja essa, a estratégia do sindicato é totalmente equivocada.
Primeiro porque a população, que neste caso é parte diretamente
envolvida no processo (diferente da iniciativa privada), nem é
chamada para as negociações. Fica de fora. E não me venha falar
que algum vereador faça parte disso, porque os poderes legislativos
deixaram há muito tempo de representar a população, suas decisões
são tomadas com bases em conchavos políticos. Eles nem fazem uso
dos serviços públicos também e não sabem sequer como são
prestados esses serviços e nem são afetados pela paralização dos
mesmos. Então o sindicato erra porque não procura trazer a
população para perto de si e tentar demonstrar seus motivos, a fim
de ganhar apoio da mesma. Só ganha a inimizade.
Mas vamos aos méritos. Em Limeira, o sindicato pede 12% de reajuste.
Talvez seja aquela velha e ultrapassada jogada de dar um percentual
alto para depois ir descendo na negociação e chegar na média entre
2,84% oferecidos (que está de acordo com o índice da inflação) e
estes 12%.
Também fiquei sabendo que em Limeira o funcionalismo no geral tem
recebido seus reajustes anuais. Diferente de outras prefeituras e
governos (de outras instâncias inclusive), onde algumas categorias
não são reajustadas há 3, 5 ou 10 anos, ou em locais onde, na
atual crise, alguns funcionários estão sem receber salários, 13ºs
etc. Não que eu esteja querendo ver o pior lado e dizer que devemos
aceitar o que tem de pior. Pelo contrário, acho que temos de lutar
pelos direitos e, neste sentido, estou com o funcionalismo público,
especialmente os professores, cujos salários precisam realmente ser
melhorados, de uma forma geral.
Mas daí dizer que o sindicato tem motivos para pedir 12% neste ano,
com a atual conjuntura econômica-social-política vivida no Brasil e
considerando a situação de Limeira, que está em dia com os
pagamentos e tem oferecido reajustes anuais, aí já é demais. Ainda
que estivessem pedindo isso, mas não paralizassem os serviços,
prejudicando a população, seria até compreensível, para colocar a
média dos percentuais na mesa de negociação. Mas daí a prejudicar
o povo para pedir 12%, ora, faça-me o favor! Vocês precisam se
atualizar e entender que a história avança, que a atual situação
é diferente. Para conseguir o apoio da população, a fim de
pressionar os políticos, esse caminho está equivocado.
Primeiro porque o serviço público, de uma forma geral, nem é tão
bom assim. Na iniciativa privada, quando alguém individualmente vai
pedir aumento, precisa justificar o que fez de bom para a empresa, em
que colaborou para a melhoria da empresa e seus lucros, a fim de
justificar esse aumento. Inclusive em negociações coletivas, esse é
um dos pontos a ser colocado na mesa de negociações. Mas e no poder
público? O que os funcionários apresentam como melhoria? Sou
frequentemente atendido por pessoas que não tem a mínima capacidade
de atendimento. Ou não têm educação. Ou não sabem dar atenção
ao público. Não só comigo. Vejo muitos cidadãos passando por
isso. Claro que existem também os ótimos funcionários no poder
público. Aqueles que fazem um ótimo serviço. Tenho muitos desses
exemplos também. Mas as maçãs podres estragam o todo. E, no setor
público, o grande problema é que não se tem como eliminar essas
maçãs podres, por causa da tal estabilidade. Os maus convivem junto
com os bons funcionários, causando 2 grandes problemas: primeiro,
levando uma ideia errada sobre a qualidade do serviço público para
a população, que quando é atendida por um desses do time dos
incompetentes e incapazes, acaba tendo a ideia de que todo o serviço
público é péssimo. Assim, os bons pagam pelos maus funcionários,
porque a população vai sentir mesmo quando precisar e não tiver um
bom atendimento, pelo qual, diga-se de passagem, paga um preço bem
alto através de impostos. Não tem nada de gratuito nisso. O segundo
problema é interno. Já que os maus funcionários (incompetentes e
mal educados) convivem com os bons, nas mesmas condições e ganhando
inclusive os mesmos salários (às vezes até mais), então isto
desmotiva os bons e, com o tempo, a qualidade do serviço é nivelada
por baixo, porque se perde a motivação para se fazer um bom
trabalho, por mais que se tenha vontade para fazer isso, tornando um
ciclo que só piora a qualidade geral do atendimento com o tempo.
Brigar por aumento de salário para todos, de uma forma igual, tanto
para quem trabalha bem quanto para quem faz um péssimo serviço, é
uma péssima estratégia. Mas que infelizmente é chancelada pela
legislação.
A realidade para muitas pessoas da iniciativa privada hoje é o
desemprego. Dependem ainda mais do serviço público. Muitos
trabalhadores da iniciativa privada não estão tendo condições de
sustentar suas famílias adequadamente. Daí, o funcionalismo público
pedir 12% num período que muitas empresas estão demitindo para
poder fornecer pelo menos o dissídio é no mínimo falta de
sensibilidade por parte do funcionalismo público, para não dizer
burrice do sindicato. Não tem como conseguir o apoio e a simpatia da
população dessa maneira.
Acho que todos temos de lembrar da situação atual pela qual
passamos.
Creio que a melhor estratégia do funcionalismo público hoje seria
mostrar para a população suas reinvidicações com méritos (não
12%, por favor!), mostrar o que tem feito de bom, para merecer isso,
e pedir o apoio dos mesmos. E não prejudicar a população. Fico
feliz que algumas escolas decidiram oferecer as aulas para seus
alunos e continuar lutando pelos seus direitos. É isso aí.
Continuem lutando, não prejudiquem as crianças, a população em
geral. Se assim fizerem e granjearem o apoio, com certeza a população
estará do lado de vocês. Neste caso, têm todo meu apoio. Caso
contrário, só trará antipatia por parte do povo. Nestes tempos de
crise, numa cidade que tem mantido o salário em dia e os reajustes
anuais também, se pedissem 3 ou 4%, talvez 5% para os professores,
na atual conjuntura, estaria de bom tamanho. Apenas para manter a
atual situação, e não ocorrer defasagem. Se as coisas melhorarem,
nos próximos anos pode-se buscar uma melhoria geral. Até porque, se
as coisas continuarem assim (e espero que mudem), logo logo os
professores estarão ganhando o mesmo que os engenheiros, mas por
causa do achatamento do salário daqueles, porque na iniciativa
privada o nível dos salários é bem variável, conforme a regulação
do mercado e da economia.
E a nossa luta é para que o Brasil, como um todo melhore. Que
ninguém tenha seu salário achatado. Nem engenheiros, nem
professores, nem funcionários públicos, nem aposentados, nem
faxineiras, nem entregadores, nem administradores etc.
Creio que o prefeito poderia lembrar que estamos em crise. Claro que
não dá para fazer de tudo com o orçamento que se tem. Então é
necessário escolher. Serviços essenciais são prioridade. Atender à
população que mais precisa é prioridade. Talvez com alguns cortes
em serviços não essenciais para um todo, que acabam atendendo
apenas a pequenos grupos de interesse permitisse ao orçamento
melhorar um pouco as condições gerais. Gestão também é isso,
cortar onde precisa, em questões secundárias.
À população, gostaria que todos lutassem também por um serviço
melhor. Que reclamasse quando são mal atendidos, que façam
reclamações por escrito, com número de protocolo na prefeitura
para que eles vejam realmente o problema que existe. Que apoie sim o
funcionalismo público que faz um bom serviço. Esses têm meu total
apoio. Dou meus parabéns a todos aqueles que fazem um bom serviço.
Mas não se deixem nivelar por baixo. Não se desmotivem por causa
daqueles que não trabalham direito, ao lado de vocês. Os maus
deveriam poder serem tirados do sistema (ou melhorarem sua conduta e
seu serviço, quando possível), para o bem da população e dos bons
servidores. Por enquanto, isso não é possível. Mas que a população
também não aceite ser prejudicada com paralizações sem mérito,
que mais parece jogada política para prejudicar esse ou aquele
político, porque mérito não tem.
Os servidores públicos não devem se deixar levar como massa de
manobra, mas lutar pelo que é certo e justo. Se tivessem com
salários atrasados, com falta de reajuste por anos, apoiaria a greve
e seria o primeiro a dizer para o governo que precisa acertar as
contas. Não é o caso.
Greve, agora, não dá, né.