A
expressão que emprestei para dar o título a este artigo é um
ditado popular que chama a atenção para o fato de cada um dever
cumprir com seu próprio papel na sociedade, que cada um deve fazer a
sua parte, não invadindo a tarefa alheia para executá-la, nem
deixando de cumprir com a sua.
Pois bem:
este é um ano eleitoral, muita coisa vai acontecer e penso que
teremos muita movimentação política no segundo semestre. Afinal, a
polarização política está numa de suas fases mais intensas da
história. Mas há uma dificuldade: se a dimensão da rivalidade é
grande, não o pode ser a clareza de tal distinção. Em comparação
com a época da ditadura, com apenas 2 partidos, o governo e a
oposição, hoje temos dezenas, talvez centenas.
O
problema é que não há “linha ideológica” definida para cada
partido. Os interesses se misturam e as mudanças dos políticos de
um partido para outro tornam difícil saber qual a linha de trabalho
e a ideologia de um determinado partido. Hoje em dia, não há mais
direita ou esquerda claras.
Nesse
clima político e considerando que, no Brasil, o ato de votar é
obrigatório, o eleitor fica numa posição muito cômoda: já que é
obrigatório votar, espera-se o “otário eleitoral gratuito”,
ops, quer dizer “horário eleitoral gratuito” e escolhe-se o
candidato que fala mais bonito, que tem mais argumentos, que se veste
melhor ou tem um sorriso mais cativante, que produz um vídeo mais
envolvente. Às vezes um que é engraçado ou brinca com coisa séria,
mas que faça rir!
Como não
há definição para se saber a linha ideológica de um partido e os
candidatos apelam para o visual e emocional das pessoas com promessas
e planos mirabolantes, próprios de quem abusa da falta de
conhecimento da massa eleitoreira para ganhar votos e como o eleitor
não se preocupa em procurar conhecer seu candidato, a eleição, em
vez de ser algo que deveria durar 4 anos, geralmente dura apenas 2
meses! Mas quem sabe desta vez esteja diferente. O clima político
tem feito parte de nossas vidas em cada esquina que se vira desde a
última eleição para presidente.
Explico:
A eleição é definida sempre no horário da TV, enquanto deveria
ser definida e trabalhada na mente do eleitor durante os 4 anos de
mandato do candidato à reeleição e dos outros candidatos que, na
sua maioria, geralmente, ocupam cargos públicos em outras áreas e
precisam ser observados por um bom período para se analisar o
caráter e os ideais da pessoa e do partido.
Temos
mudado. O simples fato de se falar de política ultimamente já é
uma prova desta mudança. Votaremos sem errar desta vez? Não sei.
Mas já andamos um pouco. Evoluímos. Melhoramos. Creio que podemos
esperar, pelo menos, que não se elejam os corruptos, os condenados,
os hipócritas que só se importam com o povo a cada 4 anos, que não
se elejam os que compram votos, porque se um eleitor se vende, se se
rebaixa a este nível, já não pode exigir nada, não tem o direito
de reivindicar melhorias. Também não podemos eleger os
incompetentes. Os desonestos. Espero que os eleitores tenham
amadurecido o suficiente para não se deixar levar pela propaganda na
TV, editada e bonitinha. Isso não reflete a realidade do dia a dia
do político.
Os ideais
não se medem pelo discurso do candidato, pelo que ele diz na TV ou
no palanque. Os ideais se observam pelas atitudes, pela vivência do
dia a dia público do mesmo.
Como cada
macaco tem que estar no seu galho, os representantes públicos
precisam entender e cumprir sua tarefa de representar o povo que o
elege. E o povo, para cumprir com sua obrigação precisa, no mínimo,
cumprir com três etapas: 1) conhecer o(s) candidato(a) para o(s)
qual(is) deseja dar seu voto; 2) conhecer o plano de governo deste
candidato e, se possível, ter uma cópia escrita dele em casa; 3)
cobrar do candidato, se for eleito, o cumprimento de seu plano de
governo, para fazer exercitar a cidadania e realizar a democracia de
verdade.
Neste
ponto, quero chamar a atenção para o eleitor e dizer que, se os
homens públicos não têm sido bons homens públicos no governo, a
culpa é do povo, que se omite e deixa que a falta de caráter
predomine. A culpa é daqueles que acham que pequenas atitudes
corruptas não são problema. Parafraseando um grande líder da
humanidade, “tanto dói a maldade dos perversos quanto o silêncios
dos virtuosos” (Gandhi).
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