
A copa está chegando. As eleições também. Vivemos essa
“dobradinha” faz bastante tempo. E, para minha felicidade, desde
a última, o brasileiro começou a pender a balança mais para as
eleições do que para a copa. Não era assim. Até as eleições de
2010, você via um clima falando de Copa do mundo já logo depois do
carnaval. Meio que emendava uma coisa na outra. Na conhecida
estratégia do imperador romano de pão e circo, aqui o povo só
vivia disso. E, para lamento de nossa nação, quando chegavam as
eleições, quantas vezes ouvi pessoas na fila dizendo que ainda não
sabiam em quem iriam votar, que “lá dentro” (na cabine de
votação), decidiriam!!! Como assim???!!! Passava-se metade do ano
falando de uma meia dúzia de partidas de futebol da seleção (a
copa toda, para quem chega na final, tem 7 partidas!). Mas as
eleições recebiam alguma breve atenção durante a campanha (uns 2
ou 3 meses antes da eleição em si), mas quase nenhuma atenção de
verdade, já que muitos nem votavam (justificam, votam em branco ou
nulo) ou até mesmo votam em qualquer um, decidindo na hora, como que
na sorte (ou azar), uma verdadeira loteria, sem qualquer
responsabilidade.
Ah.... mas o Brasil está mudado.
Hoje, falamos que herói são alguns membros do judiciário. Só
alguns, tá. Os outros não! Não falamos mais em heróis de camisa
verde e amarela, correndo atrás da bola. Conhecemos mais os 11
ministros do STF (os bons e os ruins) do que os 11 titulares da
seleção. Que bom! Mudamos. Precisamos continuar mudando.
O problema não é assistir um jogo de futebol. De repente, a seleção
de futebol não virou nenhuma vilã da história. Não tem problema
divertir e descontrair um pouco. O problema era a ênfase e o
verdadeiro fanatismo que a população rendia ao futebol de 4 em 4
anos. Totalmente desnecessário. Eu mesmo gosto de acompanhar a copa.
Não acompanho futebol dos clubes (é demais pra mim, o ano todo,
todo ano, ficar acompanhando um time no estadual, no brasileiro,
libertadores, sulamericana etc etc etc). Então, pra mim, de 4 em 4
anos, só assistir aos jogos (quando possível), está de bom
tamanho. Minha torcida resume-se a comemorar discretamente o gol e a
possível vitória. A ficar atento no jogo, que só faço nesse
período. Nunca gastei dinheiro com corneta, vuvuzela, camiseta,
confete verde e amarelho ou o escambal. Nem perdi também um dia
inteiro de trabalho por causa do jogo. O restante do horário do dia
serve para trabalhar ou cuidar das obrigações da casa. O jogo dura,
no máximo, 2 horas. Então, neste contexto, não acho problema
divertir um pouco e voltar à realidade e às responsabilidades antes
e depois disso.
Mas não era assim. O grande problema estava que a copa durava 6
meses. Para alguns, durava 4 anos, acompanhando todo o processo de
preparo e eliminatórias. Mas as eleições, para a maioria dos
braileiros, durava 2 meses (campanha na TV) ou apenas 5 minutos.
Estava invertido. Estava errado. Não acertou tudo ainda, mas já
começou.
Nas eleições de 2014 (quando a copa foi no Brasil), em 2013
começaram muitas demonstrações do povo que as coisas estavam
mudando. E começamos a poder falar de política neste país nas
rodas de conversa. Antes não se falava. Mais por desinteresse da
maioria do que por medo de polêmica. Agora não. É um dos assuntos
mais presentes no dia a dia do povo. De todas as classes, de todos os
tipos. E isto é bom. Estamos começando a viver a democracia. Mas
calma. Estamos só começando.
Agora, na copa de 2018 e nas eleições que seguem, posso dizer que
passamos mais vivendo sobre a realidade do nosso país do que
seguindo a chuteira dos 11 milionários. Acho que estamos entendendo
que os jogadores não são heróis. Também não são vilões. Não é
pra tanto. Estão só fazendo o seu trabalho. Vamos prestigiar o
trabalho deles. Afinal, um bom jogo é bonito de se ver, não se pode
negar. Mas o trabalho dura 2 horas. Ninguém vai ao circo ou ao
teatro, assistir uma performance cultural e fica, depois, comemorando
e falando sobre o evento pelos próximos 2 meses. No máximo uma
conversa em família ou amigos, se o conteúdo do evento foi
suficientemente recheado para merecer o tempo gasto com comentários.
Precisamos colocar as coisas no lugar.
Precisamos viver a realidade de nosso país, nosso papel na
democracia no dia a dia. As eleições precisam durar 4 anos, não 2
meses. Precisamos dar a devida importância a cada situação. Os
jogadores não são heróis. São da indústria do entretenimento.
Estão lá para nos fornecer algumas horas de um bonito espetáculo.
E que possamos apreciar. E pronto. Depois voltar à vida. Eles ganham
(e muito bem) para fazer o trabalho deles. Não são líderes nesta
nação. Alguns nem de exemplo servem para os jovens (mas aí, já
acho que deveriam sim). Mas os jogadores insistem em se manter
neutros e passivos a tudo quanto se diz sobre a vida da nação.
Ninguém ali tem opinião. Ninguém tem postura sobre nada. Tudo bem.
Opção deles. Que assim sejam considerados. Não heróis.
Apresentadores de um bom espetáculo, com tempo de duração
limitado. Uma copa, com duração total de 1 mês, com alguns jogos
de 2 horas cada, pode até tomar este tempo de alguém. Não pode
hipnotizar a pessoa pelo resto do ano.
Vamos divertir. Ver o espetáculo. Comemorar no momento (não precisa
estender muito, né, principalmente em dia de trabalho). Mas depois,
voltamos à realidade.
Que heróis somos cada um de nós, que mantemos esse país de pé.
Heróis são os que lutam por um país melhor. Que arriscam a vida e
às vezes a perdem por isso. Heróis são os que enfrentam os
corruptos de peito aberto.
Aliás, perceberam, nestes últimos 4 anos, como o Brasil mudou?
Grandes empresários e políticos na prisão! Isso não acontecia
antes. O povo falando sobre tudo o que interessa realmente.
Aprendendo sobre as questões políticas.
Heróis são os trabalhadores honestos, que não abrem mão de ganhar
seu sustento da forma correta, sem se corromper. São médicos e
profissionais da saúde que fazem de tudo para salvar vidas num
sistema falido. São professores que se dedicam a instruir nossas
crianças e jovens. São policiais que se arriscam a cada dia deixar
seus cônjuges e filhos sem sua presença em prol de pessoas que nem
conhecem para manter o mínimo de ordem. Heróis são os que
trabalham no chão de fábrica, nos campos, no comércio, produzindo,
fazendo a economia girar e o país continuar. Porque, se todos
pararem, como seria?
Estão, vamos divertir com a copa este ano. Mas rapidinho, tá.
Depois, um abraço para os jogadores, um agradecimento pelo momento
de espetáculo (espero que pelo menos isso eles façam com o dinheiro
que ganham) e voltamos à labuta diária de ser herói a cada dia.
Aliás, já pensou se cada setor do Brasil recebesse o mesmo
investimento que a CBF tem, como seria cada área desse país?
leia também meu blog cristão: perolasnabiblia.blogspot.com
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