Tem de tudo na internet.
É verdade.
Mas você sabe usar e aproveitar esse conteúdo da internet da forma certa?
O império grego construiu a Biblioteca de Alexandria e quis trazer para ali exemplares de livros de todas as culturas conhecidas na época. A Biblioteca era o grande centro da cultura do mundo conhecido na época. Os gregos queriam que seu império fosse também um império cultural, de fonte de conhecimento para os gregos, um povo que já tinha certa intimidade com as letras.
Mas, nem em seus maiores sonhos, os macedônios jamais poderiam imaginar o que estamos testemunhando hoje em dia. A internet, enquanto repositório descentralizado de todo o conhecimento humano é absolutamente incrível. É verdade que tudo você pode encontrar ali. Com a contribuição não apenas de técnicos e pessoas que são versadas em seus respectivos assuntos, na internet encontramos também conteúdos feitos por pessoas simples, até iletradas, sem formação e todo tipo de informação que nem sempre é digna de confiança. Isso ocorre porque não há um validador para o conteúdo que é ali colocado. Qualquer pessoa pode contribuir para o conteúdo existente. Pode até haver mentiras na internet.
No mundo antigo, no que diz respeito à produção e transmissão de informação, a dificuldade era REGISTRAR esse conteúdo. Ou seja, tábuas de argila e pergaminhos ou papirus eram os métodos existentes, mas pouco práticos e muito menos acessíveis à população em geral. Como era difícil ter acesso a obras literárias de forma pessoal (ter um pergaminho para seu uso particular na sua casa era coisa apenas para pessoas muito ricas), então geralmente o acesso era coletivo, com a obra centralizada em uma biblioteca ou instituição (sinagogas judaicas, por exemplo), para onde as pessoas interessadas se dirigiam para obter aquela porção de conhecimento e cultura registrada num rolo.
Na maior parte da história da humanidade, até aproximadamente 1455, quando a imprensa de Gutemberg foi inventada, a produção literária era toda feita manualmente. Ou seja, os copistas ou escribas tinham que copiar um livro ou texto à mão, escrevendo sua cópia uma por vez, quantas vezes quisesse que houvesse cópias dessa obra, a fim de compartilhar com outras pessoas. A distribuição do conhecimento era lenta e muito poucas pessoas se arriscavam à tarefa de produzir ou distribuir livros e outras obras literárias.
Após a invenção da prensa de Gutemberg, a disseminação do conhecimento deu um salto espetacular. Agora, para produzir um livro, não era mais necessário copiá-lo à mão, mas usando uma produção industrial, centenas ou até milhares de cópias eram feitas no tempo que antes era só possível fazer 1 única cópia de um mesmo exemplar. Mas a disseminação destas obras ainda era feita de forma manual. Ou seja, para um livro produzido na Alemanha chegar até a Espanha, por exemplo, era necessário transportá-lo fisicamente. Além disso, se um determinado lugar tivesse um exemplar, outro lugar não poderia tê-lo. Fisicamente, cada exemplar atendia apenas 1 local.
Mesmo assim, a produção e distribuição do conhecimento passou a ocorrer como nunca antes na história da humanidade, levando a civilização aos avanços que podemos testemunhar nos últimos 500 anos.
Mas, com a chegada da internet, a situação não deu apenas mais um salto. Ela literalmente entrou em órbita! O acesso ao conhecimento foi para o espaço.
Se antes o problema era a produção ou a acessibilidade do conhecimento por causa das limitações físicas, isso tudo não representa mais nenhum tipo de problema com a internet. A produção tornou-se acessível a todos. Instantaneamente. Qualquer pessoa com um celular ou computador disponível (inclusive de uso público) pode produzir algo e disponibilizar na internet. A acessibilidade dos leitores para o texto produzido também é imediata, em qualquer parte do mundo. A partir de um conteúdo produzido, por exemplo, em Curitiba, alguém de Bruxelas pode vê-lo em poucos segundos após ser disponibilizado.
Se estes problemas foram solucionados com o advento da tecnologia, outros surgiram.
Excesso de informação;
Dificuldade de detectar o que é verdadeiro;
Dificuldade de detectar o que é relevante;
Dificuldade de ir do começo ao fim em muitos assuntos;
Pluralidade exagerada de abordagens sobre um mesmo assunto ou tema.
Disponibilização de conhecimento aleatório e não direcionado.
E tudo isso pode gerar um problema realmente difícil de resolver.
Ao buscar uma informação, a pessoa que busca pode ser de vários tipos. Alguém já conhecedor de um determinado assunto que procura expandir seus conhecimentos. Pode ser alguém que está começando a aprender. Pode ser alguém que está se inserindo no mundo da cultura, como crianças e adolescentes.
Veja só, antes da internet, quando se falava em ler o jornal, geralmente era uma informação produzida localmente, na sua cidade ou região. Não se lia, via de regra, jornais de outros países ou noticiários produzidos em regiões longínquoas. Você tinha acesso ao que acontecia na sua região e, quando era de longe, eram aquelas notícias selecionadas, mais importantes ou relevantes de outros lugares.
Mas hoje, tem-se acesso ao jornal ou noticiário de qualquer parte do mundo. Quem no Brasil precisaria assistir ao noticiário da Grécia ou Lituânia. Mas, se alguém quiser, está disponível. E, junto desta disponibilidade, tem um monte de outras coisas disponíveis, que pode parecer uma grande vantagem, mas também pode se revelar um grande problema.
Isso porque, para muitos, ter tudo isso disponível pode parecer legal e instrutivo, mas se for consumido sem critérios, organização e ordem, vai mais é tomar o tempo das pessoas do que trazer conhecimento relevante de verdade.
Se a pessoa que está usando a internet e consultando conteúdos tiver dificuldade para filtrar, para se disciplinar e realmente investir seu tempo naquilo que é relevante para o seu contexto, então o contrário significa que ela estará literalmente perdendo tempo, desperdiçando sua vida. Isso porque, por mais legal ou interessante que possa parecer eu poder obter informações de todos os lugares do mundo, é humanamente impossível absorver toda a informação existente ou produzida diariamente. Sequer faz sentido eu querer saber de tudo o que acontece em todo lugar, mesmo aqueles que não têm conexão nenhuma com minha realidade. Mas a impressão é que parece muito legal: "olha só, esta notícia da Itália" e, de repente, nem tem relação nenhuma comigo.
O mesmo vale para a obtenção de conhecimento profissional. Sem saber direcionar o conteúdo a ser consumido, quando eu quero aprender a respeito de algum assunto profissional, posso ser levado pela internet e consumir todo e qualquer assunto naquela determinada área de interesse, ou mesmo assuntos que nem têm relação com minha área de interesse, e fazer apenas com que eu perca tempo nisso tudo.
O pior de tudo é a falta de direção, se eu passar a consumir de forma aleatória. O assunto começa com uma introdução, mas daí vou para outro fornecedor de conteúdo e ele me mostra algo mais avançado que não consigo entender, daí vou para outro site que me mostra outro aspecto do conhecimento e assim vai indo, virando um balaio de gato, sem que a informação seja contínua e sequencial, o que é a forma recomendada, porque assim vai me levando, passo a passo e gradualmente, ao aumento do meu conhecimento sobre o assunto.
Neste sentido, quando quero aprender sobre algo, o melhor a fazer é escolher um local (um site, um curso, uma sequência de ensino) que me mostre do começo ao fim sobre aquilo que preciso aprender. Se eu ficar vendo conteúdos de todos os lugares, de forma aleatória, não vou chegar a lugar nenhum no final de um bom tempo gasto.
Na prática, para aprender de verdade, devo escolher um curso ou um site que tenha domínio sobre o assunto em questão e consumir o conteúdo todo daquele mesmo lugar, do começo ao fim, porque isso vai me levar numa sequência com um objetivo final. Pode até não me dar todo o conhecimento que eu busco ou preciso, mas será muito mais eficiente para me mostrar a visão geral e me preparar para ter um conhecimento base que me torne capaz de buscar, com mais objetividade, outros complementos do assunto por conta própria.
O que quero dizer é que quando você não conhece um determinado assunto, ficar fazendo pesquisas na internet podem até atrapalhar, porque você sequer sabe por qual palavra deve procurar, especificamente.
Até mesmo a palavra ou frase que você vai usar no buscador do Google pode fazer diferença com relação ao conteúdo que será mostrado. E, se você já tiver uma visão geral sobre o assunto do seu interesse, até para procurar conteúdos mais específicos, fica mais fácil.
Se você não tiver uma base por onde começar sua busca de informação, corre o risco de obter informações falsas ou irrelevantes, que não te levarão a lugar nenhum. Ter uma base de conhecimento inicial é muito importante para conseguir se aprofundar mais no conhecimento.
Quando você faz uma pesquisa e o Google retorna milhões de resultados para aquele termo pesquisado, geralmente a pessoa deixa para o próprio Google fazer a escolha de por onde começar, clicando nos links que aparecem primeiro na lista. Mas é importante visitar e dar uma olhada em todos os links da primeira página, pelo menos, a fim de ter uma noção geral do assunto que está sendo tratado.
Algumas vezes, o Google prioriza o aspecto comercial, mostrando pra você se tem algum produto à venda, relacionado com a sua pesquisa, mas você queria mesmo era pesquisar o aspecto técnico. Então você precisa procurar um pouco mais na lista do Google que te apresentou. A internet é muito boa e fantástica nas suas possibilidades. Mas é preciso saber utilizar bem seus recursos para tirar o máximo proveito.
Ficar buscando conteúdo aleatoriamente
não produz conhecimento e só faz perder tempo.
Aprender a fazer isso da forma correta é vital
porque quem adquire o conhecimento de forma incorreta
se torna escravo da busca pela busca, sem objetivo nenhum.
Aprender a buscar o conhecimento da forma correta é libertador.
Todo aprendizado tem um começo. E é sempre melhor começar pelo começo. Mas quando se busca o conhecimento sozinho, sem ter uma base, corre-se o risco de ser apresentado ao conhecimento pela metade, começando do meio do caminho. Às vezes até se consegue "aprender" algo assim, mas perdem-se as bases que tornam aquele aprendizado muito mais produtivo.
O pior de tudo é que, buscando o conhecimento de forma aleatória, você nunca nem vai saber qual teria sido o conhecimento correto que deveria ter buscado. Você nem vai saber que não sabe sobre determinado assunto. Vai pensar que sabe.
Por exemplo temos um curso de informática disponível em nossa plataforma. Com explicações, pressupostos e conceitos básicos que são indispensáveis para o aprendizado mais avançado. Aliás, tudo que é básico serve de base para outros conhecimentos mais avançados. Porém, muitas pessoas hoje preferem "ir direto ao ponto", ou seja, preferem pular estas etapas e pedem ao Google que informe o "como fazer" uma determinada tarefa, que seria o meio caminho de um aprendizado completo. Então, aquela pessoa até aprende aquela tarefa específica (como, por exemplo, fazer um gráfico no computador), sem entender exatamente o porquê ou os passos para se chegar àquele resultado. E, o pior de tudo, sem poder aproveitar aquele aprendizado em outras partes, porque o aprendizado é pontual e só serve para aquele objetivo, naquele momento.
O conhecimento completo faria com que este aprendizado pudesse ter um aproveitamento geral, em outras situações também.
Conhecimento aleatório e sem direção é perda de tempo. A pessoa que consome conteúdo desta forma acaba acreditando que sabe alguma coisa, que realmente aprendeu algo e vive na ilusão de ser capaz de falar daquele assunto apenas pelo fato de ter tido contato com fragmentos sem qualquer conhecimento consolidado sobre o tema.
Quando se faz uma faculdade, dentre outras vantagens, um dos benefícios é ter um professor que possa te indicar livros que sejam relevantes para uma determinada matéria e aprendizado. Aquela lista geralmente vale ouro (só não pode ser doutrinação, ok?). É algo que o professor garimpou ao longo de anos, atualizou e agora disponibiliza aos seus alunos para que possam ter acesso a um conhecimento amplo e relevante. Se eu tentar buscar, sozinho, sem a orientação de um professor experiente, os livros para uma determinada matéria, corre-se um risco sério e certo de não conseguir definir os melhores livros para desenvolver determinado conhecimento de forma gradual e relevante.
Mas alguém diria que prefere escolher o próprio conteúdo, que não quer que outra pessoa "faça sua cabeça", que prefere ter liberdade de escolha. Ora, o aprendizado (todo tipo), compõe-se de 3 fases: busca do conhecimento, análise crítica do conhecimento e produção (veja artigo sobre isso). Na primeira fase, cabe ao aprendiz apenas ouvir e acumular um conhecimento que dê a ele as bases e noções para seguir adiante no conhecimento desejado. Mas, numa primeira fase, não dá para discutir muito sobre o que se pensa do assunto, escolher a própria bibliografia, porque ainda não se tem um conhecimento básico que o permita falar a respeito com propriedade. E, na busca de um conhecimento aleatório sobre o assunto, também não dará ao aprendiz a base necessária para discutir o assunto com propriedade.
Somente após passar pela primeira fase é que se torna possível discutir o assunto. Analisar. Criticar. Nesta segunda fase, aí sim, já fica mais tranquilo buscar por si próprio o conhecimento, escolhendo conteúdos, fontes, palavras chave para usar no buscador da internet etc.
Mas todo conhecimento, no início, precisa que alguém, um tipo de tutor do aprendizado, o guie pelo caminho do conhecimento. Mesmo que, depois, você não concorde com aquele caminho apresentado, está tudo bem. Num segundo momento, terá a chance de analisar isso e escolher um outro caminho que julgue melhor. Mas é necessário começar de algum ponto. Esta escolha de "outro caminho" só é possível porque alguém te mostrou um caminho inicial. E o ideal é sempre começar pelo começo, seguindo gradualmente até um ponto mais avançado ou conclusivo sobre o assunto, buscando isso de 1 ou 2 fontes de informação.
Alguém já disse que quando você está aprendendo algo, deve buscar o aprendizado ou executar uma tarefa "conforme a receita". Ou seja, faz do jeito que aprendeu, repita, torne-se bom naquilo. E então você terá mais assertividade e certeza para buscar alternativas. É como preparar um prato novo de comida. Se nunca fez, segue a receita. Repita algumas vezes. Depois de estar seguro no preparo daquele prato do jeito que lhe foi passado, você estará melhor preparado para sugerir mudanças no preparo. Mas precisa, antes, praticar conforme a receita.
A busca aleatória de conteúdo disponível na internet só gerará confusão e bases furadas para a consolidação do conhecimento. Ou seja, você até aprende, mas com falhas, com partes faltando etc. Alguém precisa te ajudar no início do processo, até você atingir um nível de conhecimento básico em que possa procurar por si mesmo. Mas daí, a busca não será mais aleatória, você saberá buscar da maneira correta.
Repetindo, na prática, quando for buscar um conhecimento profissional, faça um curso num local idôneo e competente para determinado assunto. Faça esse curso do começo ao fim. Não corte no meio do caminho para ir a outro lugar. Depois de adquirir um conhecimento básico sólido do assunto, um básico que sirva de base para suas próximas pesquisas e avanços, então você estará mais apto a buscar por conta própria. Mas daí, não será mais aleatório, será direcionado pela sua base de conhecimento adquirida.