segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Já não se fazem super-heróis como antigamente!

 

Estive dando uma olhada nos super-heróis de antigamente: Super-Homem, Mulher Maravilha, Hulk, Homem-Aranha, Capitão América, Flash e tantos outros que povoaram e povoam até hoje o imaginário das pessoas. Em contraposição, observo os “heróis” que surgem hoje em dia: pokemon e seus treinadores, Dragon Ball, Mega Man e tantos outros que surgem aos montes.

Me pergunto porque estes de ontem ainda surgem (e ressurgem atualmente, com os relançamentos do Homem Aranha, Hulk, X-Men e outros no cinema) e povoam as mentes dos adultos (crianças de ontem) e ainda conseguem cativar crianças de hoje. Mas os atuais não conseguem cativar tanto e não duram tanto também?

O que será que cativa naqueles que não chama atenção nos atuais? E uma característica comum me chamou a atenção: os super-poderes. Já notaram que os heróis de ontem tinham superpoderes exclusivos e marcantes. Que eles, apesar da aparência humana, não eram humanos, mas ganhavam super-poderes justamente por não serem humanos (O super-homem veio de kripton, o homem aranha é um híbrido, resultante da ação de uma aranha radioativa, o Hulk teve alterações causadas por exposição radioativa, os X-men eram mutantes e assim tantos outros).

Os superpoderes e estas características os diferenciavam dos seres humanos “normais” e os colocava a uma distância segura, no imaginário de cada um, sem causar qualquer confusão quanto à identidade e à singularidade daqueles em relação a nós mesmos. Gostávamos de ver suas vitórias, baseadas nos superpoderes e, com exceção de algum possível garoto que tenha tentado voar pela janela do 10º andar pensando ser o super-homem, não se sabe de alguém que pensasse ter a velocidade do Flash ou que pudesse realmente se tornar verde e grande como o hulk. Fora das brincadeiras de criança do tipo: “eu sou o capitão américa” quando vestíamos as roupas típicas deles e fazíamos de conta que éramos super-heróis (e o código de honra da moçada fazia com que o “inimigo”, na brincadeira, acreditasse que tais poderes existissem). Bem, fora dessas brincadeiras, ninguém pensava ser realmente o Homem-Aranha (se alguém tentou escalar alguma parede, logo percebeu a impossibilidade).

Essa fantasia infantil era saudável. Povoava o imaginário, aguçava a criatividade, estimulava a busca de novas brincadeiras e interações sociais. Afinal, entre os super-heróis, haviam as sociedades (X-Men, Liga da Justiça, Os Incríveis, Os Marvel, Vingadores etc.) que lutavam unidas e os “inimigos”, que deviam ser derrotados. Assim, ao reproduzir a brincadeira, deveriam ser reproduzidas as interações sociais também. E a presença dos superpoderes não deixava ninguém na dúvida: aquele era um mundo. O meu mundo era diferente, real e não se misturava com aquele. Mesmo a característica comum a todo super-herói de precisar se “transformar” (Hulk), mudar de roupa (homem aranha, super homem, flash etc) ou o fato de não ser um humano facilitava essa distinção. O mundo da imaginação ficava lá. E eu aproveitava dele quando era saudável e no momento certo. E o meu mundo ficava aqui.

Hoje em dia as coisas mudaram. A distinção não é tão clara. E me pergunto se isso faz bem às crianças de hoje. Os heróis de hoje se resume a poderes que são habilidades em artes marciais, dando a impressão de que qualquer treinamento intenso numa academia poderia gerar os resultados que se vêem na televisão. Talvez muitos busquem isso, sem a tão clara e fácil distinção de antigamente.

Os heróis de hoje se resumem a saber lutar mais e melhor, a receberem cargas extra de força em seus próprios corpos, como que um anabolizante ou super-vitamina pudesse resolver o caso e não têm um ponto fraco em especial, mas são como os seres humanos, só que mais treinados, mais fortes.

Na época do super-homem, ninguém buscaria ter a força dele, pois sabia que era oriunda de outro planeta, reforçada pelo sol, diferente da nossa realidade, impossível de se obter. Hoje, talvez alguém busque ter a força de algum desses super-heróis, que fazem treinamentos, pois pode parecer possível tomar anabolizante e passar horas numa academia de musculação e artes marciais e, depois, sair de lá “lutando contra o crime”. A fantasia se mistura com a realidade. Isso porque a linha que antes as separavam agora é tênue demais. Antes era bem distinta. Agora é muito discreta.

Talvez o ser humano precise de super-heróis, de elementos fantásticos que aguce a imaginação e a fantasia. Mas talvez eles precisem estar bem afastados da nossa realidade. Assim ninguém vai ficar tentando bater no outro pensando que tem uma superforça.

A análise do sociólogo se une à maneira como o psiquiatra Francisco Assumpção avalia os jovens de hoje. 'Em linhas gerais, trata-se de uma juventude sem utopias, sem ídolos, sem heróis ou ideais. E essas referências são importantíssimas na formação de paradigmas, acordos morais e valores pessoais, assim como no desenvolvimento da identificação social', diz. Como consequência de todas essas ausências, a vida perde em significações, os jovens tendem a centrar seus objetivos na satisfação pessoal, restringindo suas ambições e sendo presa fácil do tédio ou da frustração. 'O aumento da violência juvenil e do uso de drogas pode ser entendido como maneiras de preencher esse vazio', diz Francisco.” (Superinteressante. Jan/2003. Edição 184. Pág. 61. “Como ela pôde?”)

Assim, ter um momento de fantasia é importante para a saúde mental. Manter essa fantasia distanciada e claramente distinta da realidade é mais importante ainda.




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