Uma das coisas que o nosso sistema eleitoral define é que o voto é
secreto. Bem, além de ser obrigatório e de livre acesso para
homens, mulheres, negros e brancos, brasileiros ou naturalizados
brasileiros e de permitir que brasileiros que morem no exterior votem
também. Mas seria bom pensarmos um pouco nesta questão do secreto.
Por que secreto? E é realmente secreto?
Bem, há algum tempo atrás (algumas décadas), o voto não era
secreto. E alguns “coronéis” como eram chamados, enviavam
capangas para fiscalizar os eleitores na hora do voto, porque alguns
destes coronéis obrigavam parte da população a votarem nele. Essa
obrigação podia se dar por uma subordinação econômica
(dependia do coronel financeiramente de alguma forma) ou geográfica
(vivia nas terras do coronel e era por ele obrigado ao voto). As
coisas mudaram, as conquistas foram se acumulando e, hoje, o voto é
obrigatório para quase todos (maiores de 65, jovens entre 16 e 18,
deficientes físicos e outros grupos não são obrigados, mas lhes é
permitido o voto).
Por causa dos coronéis, que obrigavam os eleitores a votarem em seus
próprios candidatos (às vezes eles próprios) e fiscalizavam se os
eleitores estavam fazendo assim, o voto se tornou secreto em algum
momento da nossa história. Esse recurso foi para acabar com os
capangas, que usavam chicotes no dia das eleições e esticavam o
pescoço para ver o nome do candidato que o eleitor escrevia na
cédula. Se fosse o indicado, tudo bem, se não, o chicote gritava.
Hoje, quando votamos, o fazemos em urnas eletrônicas, devidamente
isoladas dos olhos dos mesários, fiscais e outros eleitores. Porém,
ainda impera o coronelismo. Não temos o voto realmente secreto.
Aliás, nem deveria ser assim. Realmente, o voto deveria ser aberto.
E deve ser aberto no pós eleição. Os eleitores precisam lembrar em
quem votaram nas eleições e, depois, buscar cobrar destes
candidatos os resultados de seu trabalho durante 4 anos, para saber
se receberão de novo seu voto nas próximas eleições.
O que precisa acabar é o coronelismo. Aquele hábito de promessa de
voto em troca de favores, que nunca são cumpridos. É preciso que
todos nós, eleitores, saibamos que o voto é direito nosso e decisão
pessoal. Por isso é secreto! Isso não significa que não vou cobrar
do político que foi eleito as suas atitudes corretas. Aliás, devo
até cobrar, mesmo que o candidato em quem votei não tenha ganhado e
seja outro que esteja no poder. A partir do momento em que o político
toma o poder, ele deve governar para todos, inclusive para aqueles
que votaram em seus adversários nas eleições. Precisa acabar com o
chicote do capanga, que são decisões políticas que visam retaliar
aqueles que não votaram no candidato vitorioso. O governo é (ainda)
do povo e para o povo.
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