segunda-feira, 23 de abril de 2018

Levando as eleições a sério


Só alguns poucos das gerações mais experientes no Brasil sabem o significado da conquista das Diretas, no movimento realizado no fim da ditadura militar e culminado em 1984, com a posterior eleição do presidente Tancredo Neves, falecido a 21 de abril e substituído pelo vice-presidente, José Ribamar Ferreira de Araújo Costa (José Sarney), “pai” dos planos econômicos que fariam do Brasil um novo país e trouxeram a inflação galopante a estas terras dalém-mar. Alguém se lembra dos quase 80% de inflação mensal no momento mais crítico daquela época?
Nos primórdios da reconquista da democracia e do direito do povo a eleger seus governantes, a grande ânsia do povo era acabar com a má distribuição de renda. Tanto que o principal motivo de campanha do primeiro presidente eleito pelo povo depois da ditadura militar era a “caça aos marajás”. Ele promoveria, na presidência, uma caça àqueles que recebiam salários exorbitantes, promovendo uma redistribuição de renda. O povo sonhou, o povo o elegeu, pensando que agora, depois da ditadura e da inflação absurda, o país entraria numa fase boa. E Fernando Collor de Melo confiscou o dinheiro investido do povo e, depois, foi caçado por motivos de corrupção, justo o que ele mais disse que iria combater, a pedido do próprio povo nas ruas, substituído então pelo seu vice-presidente, Itamar Franco.
Voltamos então a um presidente não eleito diretamente pelo povo (o eleito era o Fernando Collor, mas Itamar, seu vice, assumiu no meio do mandato) que convidou Fernando Henrique Cardoso para seu ministro, o qual instituiu o plano Real. Quem se lembra da URV, no processo de transição para a nova moeda? Antigamente, quando passamos do Cruzeiro para o Cruzado, Cruzado Novo era só cortar 3 zeros que a conta continuava. Mas na época da URV, cada unidade valia 2.750,00 Cruzados Novos. A conta era difícil de fazer. Muitos se confundiam. Por alguns meses, vivemos esse processo duplo, de uma moeda e uma intermediária nas mãos, até a implantação definitiva do Real (R$), numa alusão à antiga moeda tão falada até hoje quando, nos meios populares, queremos nos referir a alguns trocados (réis).
Então, com a inflação controlada, sob a bandeira do Plano Real, o Ministro Fernando Henrique candidatou-se a presidente. E ganhou. 1 e 2 vezes. Tivemos 8 anos de governo eleito pelo povo, sem interrupção para que um vice viesse a assumir. O grande fantasma (ou dragão) da inflação foi embora (pelo menos aquela de 40%, 80% ao mês) e voltamos a acreditar. Mas, como todo remédio tem seu efeito colateral, veio a recessão pois, para manter as taxas inflacionárias baixas, é necessário manter um rígido controle no consumo e, como num efeito em cascata, isto diminuiu o consumo, a produção, o crescimento e, finalmente, o emprego.
E, neste novo cenário, o povo resolveu escolher alguém que pudesse (como pensava-se) resolver o problema da falta de emprego. O sempre candidato do Partido dos Trabalhadores, Luís Inácio, o Lula, depois de tantas tentativas, agora se elegia para fazer a distribuição de renda e para trazer o emprego. Esse problema foi resolvido. O bolsa família ganhou um gás. Mas como todo remédio pode causar um efeito colateral, mais uma vez, a solução trouxe seus problemas junto. Um populismo mantido às custas de muito dinheiro desviado e mau usado, uma estrutura governamental mantida à base de muita corrupção e um projeto de governo que se não o foi desde o início, tornou-se egocêntrico e megalomaníaco, sem a mínima preocupação com o Brasil, mas apenas consigo mesmo.
Logo em seguida, a primeira presidente mulher, Dilma Roussef, que nunca havia sido eleita nem vereadora, tornou-se em seu primeiro cargo eletivo, a maior autoridade do Brasil, levada a esta posição pelo altíssimo grau de popularidade do presidente anterior, seu padrinho Lula. Depois de cumprir o primeiro mandato, em seu segundo vimos um presidente ser retirado pelo processo de impeachment. E novamente, depois de tanto tempo, o vice assumiu, Michel Temer, num período onde irromperam as maiores denúncias de corrupção já ouvidas no Brasil.
O que ganhamos com tudo isso? Bem, primeiro uma experiência incrível em passar por tantas crises e mudanças. Temos o sistema bancário informatizado mais avançado do mundo “graças” ao tempo da inflação. Temos aprendido a usar o dinheiro e, agora, a buscarmos alternativas de renda quando o emprego falta. Estamos, aos poucos, aprendendo a ser povo e lutar pelos nossos direitos e interesses. Estamos na época das redes sociais, que permitem uma comunicação e mobilização como nunca antes. Estamos vendo na prática grandes nomes da economia e política irem para a prisão, algo impensado no Brasil até pouco tempo atrás. Milionários, senadores e ex-presidentes estão presos! Temos dado mais atenção aos 11 ministros do STF (e agora o povo até sabe o que significa “STF”!) do que aos 11 convocados titulares para a seleção que vai jogar a copa do mundo este ano na Rússia.
Mas, isso tudo não teria valor se não aprendêssemos dessa história toda a como votar. Como eleger nossos representantes. Como agir com eles depois de eleitos. Vamos aprender história. De verdade. Aquela história que nos leva a refletir e consertar nossos próprios erros. Vamos votar consciente e com maturidade. Precisamos ainda vencer a má distribuição de renda, a corrupção, a injustiça social, o coronelismo. Não está tudo resolvido. O gigante está acordando e se espreguiçando. Ainda não escovou os dentes ou penteou o cabelo para sair de casa.
Esta é uma longa caminhada. Mas depende muito mais de nós do que deles.


Nenhum comentário:

Postar um comentário