segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Revogando a "Lei de Gérson"


No Brasil, um lugar conhecido como o “país do jeitinho”, desde a década de 70 fomos acostumados a justificar toda falta de ética que busca o próprio benefício (muitas vezes em detrimento de outros) com a famosa ideia da “Lei de Gérson”, que diz que devemos (e até parece justificável) levar vantagem em tudo.
Foi por causa de um comercial de TV, protagonizado pelo jogador da seleção tricampeã em 70, Gérson, que dizia que devemos levar vantagem em tudo. Era um comercial de cigarros e o objetivo da frase nem era aquilo que estamos acostumados a ouvir. Mas o brasileiro, com o anseio de justificar as próprias atitudes, aproveitou a popularidade do jogador e elegeu aquela frase, que bem resumia o sentimento de todos que desejam levar vantagem para si mesmos, independente do significado e objetivo originais daquela frase, como o lema que a tudo justifica. O jogador que nos perdoe, mas penso que se ele soubesse onde iria parar aquela frase, ele nem teria feito aquele comercial.
Esse tipo de ideia reforçou nos brasileiros que acreditam ser justificável qualquer coisa para obter vantagens pessoais, ou para um pequeno grupo do qual pertença. Porque, afinal, precisa “ser esperrrrrrto”! Ser esperto, para obter vantagens própria, no Brasil, se transformou quase em uma virtude (alguns pensam que é uma qualidade mesmo).
Mas ser esperto ao ponto de levar vantagem, quando isso leva ao prejuízo de outro, não é algo bom, quando vivemos em sociedade. Porém, isso ficou tão entranhado na mente do brasileiro que fica difícil entender e praticar outra forma de comportamento quando se está acostumado a isso. Fica até mesmo difícil, para alguns, saber como fazer para continuar a viver sem poder ficar tirando vantagem dos outros, tão acostumados que ficaram a fazer desta regra uma forma de vida.
Mas o Brasil precisa mudar.
Esta “lei” precisa ser revogada, extinta e todos os seus efeitos anulados. Tenho certeza que o próprio Gérson concordaria com isso. Precisamos ensinar as futuras gerações que isso foi uma mancha na nossa história. Pensando na tal “lei” que justificava toda vantagem pessoal muitos cresceram achando que os fins justificam os meios. E até que um erro justifica o outro. Muitos viveram dizendo que podiam parar em fila dupla porque estavam com pressa (como se os outros não estivessem), ou estacionar em vaga de deficiente porque é rápido, muitos até fizeram disso um negócio: só no Brasil tem pessoas especializadas em guardar lugar em fila, recebendo por isso, deixando outros que necessitam da vaga e não podem pagar alguém para um lugar mais atrás na fila.
Nos meios políticos, para se conseguir algo, necessário é trocar favores. Porque alguém usa sua posição privilegiada para obter vantagens pessoais. Mas isso precisa acabar. Espero que este tipo de comportamento já esteja agonizando, em seus momentos finais, dentro da história de nosso país.
Precisamos aprender de novo e ensinar a todos que quando obtemos vantagem em detrimento de outros, esse prejuízo acaba voltando para cada um de nós, porque todos vivemos em sociedade. E se alguém da sociedade é prejudicado, então a sociedade toda é prejudicada e, de alguma forma, somos prejudicados também. Assim, se todos resolvem mentir para o governo, dizendo que precisam de seguro desemprego, estando empregados, só para obter a vantagem indevida de receber algum salário, então se todos fizerem isso, chegará um momento que não haverá dinheiro para pagar o seguro desemprego de quem realmente precisa.
O ápice desta situação, embora entranhada em todo brasileiro, pequeno ou grande, é quando um legislador cria uma lei em benefício próprio (ou de alguém que lhe pagou para fazer isso).
Aqueles que têm o poder de criar as leis não poderiam jamais estar sob o efeito da lei de Gérson. Este é o maior perigo de todos. Ter o poder de fabricar leis e não ter a ética para saber que as mesmas devem ser criadas para o bem comum, da maioria.
Mas todos, pequenos e grandes, precisam abrir mão disto. Todos precisamos almejar mais o bem comum do que o individual. Pois tudo, no fim, acaba voltando para nós, seja bom ou ruim. E, quando pudermos viver num país onde o jeitinho e o ser esperrrrto não for mais motivo de orgulho e sim de vergonha, viveremos, com certeza, num país onde teremos orgulho e prazer de viver.




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