Eu aprendi que toda história tem 2 lados.
Que devemos sempre conhecer “os 2 lados da moeda” de alguma coisa antes de tomar uma decisão.
Bem, neste mundo pós-moderno, pluralizado, cheio de opções, acho que hoje nossa moeda tem uns 15 lados, não apenas 2.
Mas ainda continua a valendo a ideia por trás da máxima “2 lados da moeda” de que não podemos tomar decisões e posições conhecendo apenas 1 parte da história.

O mundo moderno trouxe múltiplas opções. Para cada uma delas, há
um mar de informações e, realmente, é impossível saber tudo sobre
todas as opções. Eu já escrevi aqui que no processo de
aprendizado, devemos atentar para 3 partes do processo: o didático,
para colher informações, o crítico ou analítico, quando
analisamos e criticamos as informações recebidas a fim de
selecionar e modelar as informações e o produtivo, quando
realmente produzimos algo e “escolhemos um lado”, baseado naquilo
que aprendemos. Essas 3 etapas, de acordo com minha visão,
aplicam-se a tudo na vida. Ao processo macro educativo, quando uma
pessoa frequenta a sala de aula, da pré-escola à faculdade. E em
cada processo de busca de informação.
Por exemplo, ao escolher um posicionamento político ou ideológico,
para seguir ele ou para difundir e falar sobre ele, como se dariam
estas 3 etapas?
Primeiro, vou colher informações sobre os posicionamentos
existentes, possíveis. Vou estudar a história e as teorias. Os
resultados práticos destas posições nos lugares onde já foi
aplicada etc. Primeiro eu preciso conhecer, por exemplo, sobre
capitalismo e socialismo, sobre direita e esquerda, sobre terceiro
setor (que é a alternativa a esta dualidade).
Depois preciso ter uma visão crítica quanto a isso tudo. Preciso
questionar. Quem disse tal coisa. E por quê? Ao dizer o que disse,
foi influenciado pela sua própria experiência pessoal? Em que ponto
isso afetou sua visão de mundo? Isso que foi dito em tal lugar e em
tal tempo, aplica-se diretamente ao meu lugar e ao meu agora? Ou
preciso filtrar os princípios por trás do que foi dito e
contextualizar a aplicação para a minha realidade atual? Eu preciso
questionar, selecionar, adaptar, contextualizar, criticar, analisar
tudo o que eu li e aprendi. Senão, corro o risco de querer andar com
os sapatos de outra pessoa, sem sequer ser o mesmo número que eu
calço.
Em terceiro lugar, para que eu possa me posicionar quanto ao que eu
aprendi, emitir uma opinião consistente e segura, após esse
aprendizado e análise, eu tomarei cuidado em falar de forma objetiva
e sincera. Não posso, por exemplo, falar que o socialismo (tal como
pregam, não na sua etimologia) é uma opção viável no século
XXI, ao estudar os resultados históricos de todas as suas tentativas
de aplicação prática, nas mais diversas configurações
históricas. Seria ignorar o que não me interessa para chegar ao
resultado que eu previamente desejava chegar.
Se eu faço isso, se faço uma escolha de algo que objetivamente
estudado demonstra-se falido, é porque, provavelmente, não estudei
os 15 lados da moeda! É aqui que entra o conceito de “doutrinação”.
O conceito de “lavagem cerebral”. Se eu olho para os lados da
moeda e percebo, de forma objetiva, que o que eu pensava ser correto
não é, então devo reavaliar meus conceitos iniciais e reestudar
meu posicionamento.
Essas 3 etapas do estudo não são isoladas. Enquanto pratico a busca
da informação, há algo de crítica e emissão de opinião, mas
poucas. Depois, durante a fase crítica, provavelmente vou precisar
voltar a buscar novas informações, para complementar alguma nova
visão que tive de uma informação, e também vou emitir
posicionamentos. Na fase de emitir opiniões, de produzir algo, com
certeza, precisarei revisar as 2 primeiras etapas e até ampliá-las.
Isso faz parte do processo. É um ciclo normal. Mas eu preciso ter em
mente que preciso respeitar os processos. E vou crescendo com eles.
Numa primeira análise, minhas análises são simplórias. Depois,
vou aprofundando gradativamente à medida que aprofundo meus
conhecimentos e análises. É normal. E não há fim para esse
aprofundamento.
Mas, se por algum motivo, sou exposto a uma doutrina (política,
religiosa, ideológica, filosófica etc.) e estudo e conheço apenas
um lado, uma vertente desta questão, sem explorar, conhecer e
criticar os outros lados, os contraditórios, as alternativas na
mesma proporção, então estou sendo doutrinado. Eu preciso, antes
de me posicionar, ser colocado diante de todas as opções. Se numa
faculdade, a bibliografia do professor de história mostra apenas
livros de vertente socialista, sem dar aos alunos, que estão sendo
apresentados a esta questão, a oportunidade de ler livros de
vertente capitalista, liberal, conservadora, fundamentalista e
outras, na mesma proporção, para poderem analisar os vários pontos
de vista, então claramente está havendo doutrinação.
Hegel disse que toda tese (chamemos de ponto de vista fundamentado)
gera ou tem uma antítese, seu contraditório, seu oposto. Do
confronto de ambas, surge a síntese, até porque nenhum ponto de
vista original tem 100% de acerto. Então, o mais provável é que
deste confronto surjam questões que se fundam para formar uma nova
ideia. Essa síntese, fruto do confronto da tese e antítese (duas
ideias originalmente opostas), gera uma nova tese, que provocará uma
nova antítese e assim vai, para que possamos, ao longo do tempo,
chegar a algo mais equilibrado.
A Bíblia resume o processo da busca do conhecimento de forma muito
objetiva. O apóstolo Paulo diz assim “Examinai tudo. Retende o
bem” (I Ts 5: 21). Não há meio mais sintético de explicar isso.
Examinai tudo é exatamente o que eu vinha falando sobre a busca e a
crítica do conhecimento. Todas as vertentes, analisadas de forma
minuciosa e crítica (este é o sentido da palavra “examinai”
utilizada por ele). Primeiro devemos examinar tudo. Mas ele termina
dizendo que o que deve permanecer em minha mente é algo filtrado
pelos princípios morais estabelecidos no início. Devemos reter o
bem. O que deve prevalecer é aquilo que gera o bem, que tem o bem
como princípio motor. Que tem o bem como norteador. Ou poderíamos
dizer o amor, princípio base de tudo. Daí, podemos ver que se
retivermos o bem, iremos buscar as verdades pelos princípios que
geram o bem, para mim e para a sociedade (na linguagem bíblica, para
o meu próximo). Se algo que eu faço em particular prejudica outras
pessoas (se me afasto do bem, ao invés de retê-lo), não deveria
ser isso que deveria nortear minha escolha. Mas para conseguir chegar
a reter o bem, eu preciso antes examinar tudo. Preciso entender os
princípios do bem. Para a bíblia, o filtro é moral. Mas, no fim
das contas, para chegar à síntese de Hegel, em examinar tudo (as
teses e antíteses, os contraditórios, as alternativas etc.), meu
filtro é moral. É o bem.
Eu tenho minha própria teoria. A “gangorra das ideias”. Se eu
vivo ou acredito ou conheço uma ideia a princípio, estou num lado
da gangorra abaixado. Então sou exposto à sua antítese, conheço o
outro lado e passo para o outro lado da gangorra. Depois volto e este
movimento se repete, enquanto vou conhecendo e analisando os
extremos, até chegar a um equilíbrio. Neste processo, se resolvo
tomar decisões e viver em virtude do que aprendi antes de chegar a
um equilíbrio, sou levado a extremos e, por vezes, a atitudes que
depois terei que reequilibrar.
Enfim, não dá para viver e tomar decisões e emitir opiniões
quando se conhece apenas 1 lado da moeda. É preciso buscar
informações consistentes. E saber qual será o fio condutor que
norteará minhas escolhas. Se o que eu busco é um meio de obter
vantagens, não importando o que aconteça com os outros, então
minha escolha será uma, mesmo que eu faça todas as análises e
conheça tudo o que estiver ao meu alcance. Mas se meus princípios
me levam a buscar algo de bom para mim, desde que não prejudique os
outros e, quando possível, ainda gere algum benefício para o todo,
então minhas escolhas serão outras, baseado naquilo que conheço.
Mas se, ao buscar o conhecimento, eu só analisar as vantagens de uma
determinada ideia, ignorar suas desvantagens e só olhar o lado
negativo de sua antítese, em sequer considerar suas vantagens, então
estou escolhendo antes a ideia do que os princípios, ou seja, se eu
seleciono o que vou aprender, o que vou conhecer, significa que eu
desejo que as minhas conclusões recaiam sobre determinado lado.
Preciso definir, antes de tudo, meus princípios. Isso se aprende
antes do conhecimento. É o simples “mentir é feio” que o pai
ensina para a criança. Não pode roubar. Seja sincero e honesto. São
os princípios. Norteiam as buscas, os aprendizados.
Examinemos tudo. Vamos reter o que é bom.
___________________________________________
se gostou deste texto, compartilhe clicando abaixo
e clique em “seguir” ao lado para acompanhar novas publicações.
Visite também: perolasnabiblia.blogspot.com – www.lupasoft.com.br
conheça meus livros, publicados na amazon.com.br, disponíveis para compra em versão eletrônica e papel (procure pelo autor Lucas Durigon)