«… Teríamos,
assim, não mais do que duas alternativas: repetir a tradição
recebida ou arranjar um modo de mediá-la à mente moderna. Se o
teólogo apenas repetir a tradição, sua teologia se torna
supérflua, uma vez que a tradição está aí e todos têm acesso a
ela, entendendo-a ou não. Senão quiser ser supérfluo, torna-se,
então, um teólogo de mediação da tradição. Este é o segundo
sentido, e é positivo. Poderíamos dizer que a teologia por
definição, é sempre de mediação …» Paul Tillich
Tillich expressa o
pensamento que no termo "teologia" está subtendida a ideia
de mediação da tradição. Com isto, temos de buscar na história
(captar da história) da teologia aquilo que é relevante e
importante para o "momento nosso". E, de acordo com
Tillich, teologia (propriamente dita), é tornar atual
(contextualizado) o que nos ensinou a história (positiva ou
negativamente). Ou, usando as palavras de Tillich, no fechamento da
idéia: " … Eu mesmo deixaria imediatamente de ser teólogo se
tivesse que abandonar a tarefa da mediação. Pois a alternativa a
esse tipo de teologia é a repetição e a teologia não é
repetição." (!)
Isto me leva a
pensar em três questões: a. A relevância da teologia para o
momento atual; b. a busca dessa relevância; c. quantos querem esta
relevância
Relevância da
teologia para a atualidade
Vivemos o
imediatismo, onde tudo precisa ser feito/resolvido "ontem"
(!). Não há tempo para reflexões, para análises, que geram a
ligação da tradição (e falo tradição enquanto história) com o
tempo atual. A "tecnologização" do mundo nos trouxe esse
imediatismo.
Diria que estamos
numa terceira fase do capitalismo. Apesar do seu embrião ser
encontrado no feudalismo (os burgos), ele só veio a se firmar com a
revolução industrial, a qual possibilitou maior produção de
excedentes e geração de lucros. Intensificou a relação
proprietário versus proletariado.
A segunda foi a
revolução financeira, onde não mais os detentores dos meios de
produção, mas os detentores do dinheiro controlam os outros. Nesta
fase, os bancos, os investidores dominam.
Ainda vivemos esta
fase. Mas entramos na revolução da tecnologia/informação. Hoje,
ainda que no seu embrião, quem detém a tecnologia tem o domínio e
controle do restante. O imediatismo, essa corrida pelo "capital"
(seja ela máquinas, mão-de-obra, tecnologia ou dinheiro) torna as
pessoas cada vez mais auto-suficientes. Não há lugar para teologia,
pois "meu" teólogo particular é a internet! "Eu"
encontro respostas lá (sejam certas ou não, mas são respostas). A
reflexão precisa ser rápida, mas como fazê-la rapidamente se ela
exige tempo de reflexão, tempo este que a corrida pela sobrevivência
não nos dá?
A busca da
relevância
A reflexão
teológica neste contexto já não é mais interessante às massas.
Houve um tempo que o foi. Em Lutero, foi a reflexão teológica que
cativou as massas. Nenhum reformador teria sucesso no mundo atual
exatamente pela falta de tempo! Em termos práticos, se há um
problema social, precisa ser resolvido e não analisado. As pessoas
querem respostas!! Se socialmente aplicássemos o método de
maiêutica, tiraríamos a paciência das pessoas antes de tirar o
conhecimento de dentro delas!! Sócrates também fracassaria hoje.
É preciso agilidade
(não porque seja o melhor, mas é resposta ao imediatismo do momento
presente). O marceneiro e a costureira já não têm seu espaço
hoje. As roupas prontas e lojas de móveis em série estão na crista
da onda. Veste-se a roupa de gosto comum, feita a média da
população. Massifica-se pelo uso generalizado dos jeans e
camisetas. A individualidade vai cedendo espaço para a
produção/rentabilidade.
A mesma tendência
atinge o pensamento. Para me fazer claro, diria (radicalizando): "Já
não adiante mais ensinar a pensar, não há tempo. A tendência é
dar "respostas prontas".
Quantos estão
dispostos?
Deixe-me esclarecer
para não ficar no absurdo! A questão é que a ordem mudou. Não
refletimos (analisamos) mais sobre as origens, mas sobre as
conseqüências. E o que está acontecendo na prática: precisamos
(os teólogos) aprender a lidar com isso. Não sugiro que venhamos a
praticar isso, apenas que encaremos a realidade e aprendamos a lidar
com isso!
Chega um movimento.
Exércitos se levantam defendendo e criticando. Dão respostas sobre
algo que não produziu ainda frutos, apesar da grande maioria
trabalhar nas suas avaliações com os resultados. Poucos são os que
dão respostas baseadas em reflexões teológicas. Não dá tempo! O
movimento está aí e cobra posicionamento!!!! E necessário mais
reflexão. Mas não está sendo possível. Como agir?
Não vou dar
respostas, vou deixar para você refletir.
___________________________________________
se gostou deste texto, compartilhe clicando abaixo
e clique em “seguir” ao lado para acompanhar novas publicações.
Visite também: perolasnabiblia.blogspot.com – lupasoft.blogspot.com
conheça meus livros, publicados na amazon.com.br, disponíveis para compra em versão eletrônica e papel (procure pelo autor Lucas Durigon)